Às 16h de Lisboa (13h de Brasília), a participação era de 52% dos mais de 10,8 milhões de eleitores. É uma taxa maior que a das eleições de 2022 e 2019. De acordo com a projeção do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião, a taxa de abstenção deve ficar entre 32% e 38%, o melhor número desde 2005.
Os legisladores eleitos neste domingo vão escolher um novo governo. O país foi liderado durante décadas por dois partidos moderados:
- O Partido Socialista, de centro esquerda.
- O Partido Social Democrata, de centro direita.
Nos últimos meses, políticos dos dois partidos foram denunciados por esquemas de corrupção, e por isso o Chega, um terceiro partido, de extrema direita, pode ter uma votação significativa desta vez.
As negociações para formar uma maioria no Parlamento devem começar logo depois da definição da distribuição de cadeiras.
Os líderes dos três principais partidos
Montagem mostra Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega) — Foto: Reuters
O líder dos socialistas é Pedro Nuno Santos, de 46 anos. Ele é deputado e já foi ministro de Moradia e Infraestrutura de Portugal.
Ele pediu demissão do governo por dois casos que tiveram repercussão ruim no país:
- A forma como o governo resgatou financeiramente a empresa aérea TAP.
- Uma disputa sobre a localização de um novo aeroporto em Lisboa.
Nuno Santos é de uma família rica do norte de Portugal. Quando ele era bem mais jovem, o socialista chegou a dirigir um Porsche, mas, segundo ele, não se sentiu bem com o carro e o vendeu.
Luis Montenegro, o líder do Partido Social Democrata, de 51 anos, é advogado de formação e está no Parlamento há 16 anos.
O Partido Social Democrata formou uma frente eleitoral para concorrer nas eleições, a Aliança Democrática, com pequenos partidos de centro direita.
A polícia chegou a investigar Montenegro em 2017, quando ele era suspeito de ter recebido viagens para jogos de futebol pagas por uma empresa de mídia, mas os agentes desistiram do caso.
O líder do Chega, André Ventura, de 41 anos, não deve ter votos suficientes para se tornar primeiro-ministro, mas após as eleições o partido dele pode ser fundamental para formar alianças para que algum grupo tenha maioria no Parlamento.
Ventura foi advogado e professor de direito tributário a comentarista de futebol na TV.
Eleições em Portugal
Há apenas um ano, Portugal tinha um dos governos mais sólidos e estáveis da Europa, formado por maioria absoluta –ou seja, o Partido Socialista, sozinho, tinha deputados suficientes para garantir maioria.
Os anos de crise financeira profunda e da chamada “geringonça” –o pacto inédito entre socialistas, comunistas e esquerda radical em 2015 – haviam ficado para trás.
Foi nesse cenário que, neste domingo (10), cerca de 10,8 milhões de eleitores de Portugal voltaram às urnas .
Como são as eleições em Portugal
- Em Portugal, o regime não é igual ao Brasil. O país europeu funciona sob o regime semipresidencialista, formado por um presidente e por um primeiro-ministro. Neste domingo, os eleitores votarão para escolher deputados da Assembleia da República, como é chamado o Parlamento português.
- Os votos, diferentemente do que ocorre no Brasil, são para um partido, não em um candidato.
- O partido que obtiver mais votos pode ganhar o controle do Legislativo, mas só se conquistar um número mínimo de assentos no Parlamento.
- Nas eleições de 2022, o Partido Socialista (PS), de esquerda, obteve 117 das 230 cadeiras do Parlamento e conseguiu a maioria absoluta para governar, sem depender de alianças;
- Caso isso não ocorra, o partido vencedor pode tentar se associar a outras siglas até chegar ao número mínimo de assentos no Parlamento necessários para governar. O primeiro-ministro inclusive pode vir de um desses partidos coligados.
Dois partidos despontam como favoritos para conquistar o maior número de cadeiras no Parlamento, mas nenhum tem maioria absoluta.
O que diziam as pesquisas
As pesquisas apontavam que o Chega, de extrema direita, tinha 16%. Pode ser que o Chega se alie à Aliança Democrática, o que seria a estreia do partido radical em um governo de Portugal.
A AD agrupa o Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita, e mais duas siglas conservadoras.
Luís Montenegro, presidente da AD e da direita moderada, resiste a uma aliança com o Chega. Mas o presidente da legenda de extrema direita, André Ventura, tem dito que conta com apoio dentro da AD para chegar um acordo em um eventual novo governo.
No caso de uma vitória do Partido Socialista, de esquerda, as chances de uma coalizão com a extrema direita são praticamente nulas.
Fundado em 2019, o Chega foi fundado em 2019 e tem ganhado espaço: começou com uma vaga no Parlamento e, em 2022, obteve 12. Até as eleições de domingo, era a terceira força no Parlamento português, atrás apenas do PS (120 cadeiras) e da AD (77 cadeiras).
Divisão da Assembleia da República de Portugal antes da eleição
Partido Socialista controla a casa
Fonte: Parlamento.pt
Com discurso radical, Ventura, o presidente do partido, explora o tema da corrupção no país e evoca pautas comuns à extrema direita, como o combate a uma suposta “ideologia de gênero” e postura contrária à imigração. É aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, na quinta-feira (7), afirmou que proibiria a entrada do presidente Lula (PT) em Portugal caso vencesse as eleições.
Ventura, um ex-comentarista de futebol e professor universitário que quase se tornou padre, costuma fazer seus discursos incendiários em púlpitos e tem o lema “Portugal precisa de limpeza”.
O cartaz faz referência aos imigrantes do país, que atualmente representam quase 8% da população. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF), o país fechou o ano com quase 800 mil imigrantes. A maioria é de brasileiros.
Jovens portugueses seguram folhetos com o slogan “Portugal precisa de uma limpeza” durante ato do partido de extrema direita Chega, em fevereiro de 2024. — Foto: Patrícia de Melo Moreira/ AFP
Eleições antecipadas
As eleições foram convocadas pelo presidente de Portugal, Marcelo de Sousa, no ano passado, após Costa renunciar em um dos episódios mais inusitados da política recente em Portugal.
A reviravolta, no entanto, veio semanas depois, quando o Ministério Público reconheceu que o então premiê havia sido indiciado por engano – o verdadeiro alvo era um homônimo de António Costa.
A renúncia de Costa, no entanto, já havia sido aceita pelo presidente português, que atua como chefe de Estado no país – o premiê é o chefe de governo –, protocolada e publicada no Diário Oficial.
O ex-premiê socialista cumpria no seu terceiro mandato, o mais forte deles. Em janeiro de 2022, após dissolver seu então governo da geringonça, ele venceu as eleições com maioria absoluta.
Costa era considerado um dos chefes de governo mais estáveis e experientes em exercício da Europa, e seu governo, uma das principais referências para a esquerda do continente —apenas em Portugal e em Malta a esquerda governava sem qualquer aliança.
Sua queda mudou esse quadro e deve lançar o país de volta nas negociações pela formação de um governo após os resultados deste domingo, segundo as principais projeções.
O ex-premiê de Portugal António Costa (no centro, segurando o guarda-chuva), ao lado do atual líder do Partido Socialista de Portugal, Pedro Nuno Santos, em ato de campanha, em 8 de março de 2024. — Foto: Joao Henriques/ AP