Os radicais de direita, por sua vez, quadruplicaram o número de assentos, de 12 para 48, e, como terceira força política, terão poder suficiente para impor a sua narrativa.
Por isso tudo, fez sentido a frase do líder do Chega, André Ventura, assim que saíram as primeiras projeções: “Hoje é o dia que assinala o fim do bipartidarismo em Portugal”.
Se Ventura assegurou que trabalharia por um governo estável, com forte maioria à direita, o líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, assegurou que manterá seu compromisso de campanha, de não se aliar ao Chega — a formação mais viável para garantir a governabilidade.
“Seria tamanha maldade seria descumprir compromissos que assumi de forma tão clara”, antecipou em seu discurso de “vitória”.
Com 99% dos votos apurados e quatro assentos ainda a serem definidos pelos portugueses emigrantes, a AD, de centro-direita, tinha 79 deputados e o PS, 77. Um governo de minoria parlamentar, liderado pela Aliança Democrático, antevê uma difícil governabilidade, com o país mergulhado na instabilidade.
Se prosseguir em sua missão de descartar uma coligação com a extrema direita, Luís Montenegro terá exercitar a arte cotidiana do equilíbrio para governar: terá que negociar com o PS, a quem seu partido deu as costas durante os oito anos de governo socialista, ou o Chega, que fundamentou suas bases na xenofobia e no populismo.
O carismático Ventura capitalizou a frustração dos portugueses com a criminalidade, o aumento da imigração e a corrupção para assegurar a ascensão vertiginosa do partido.
Repetiu o discurso de outros expoentes da extrema direita no mundo, como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Javier Milei, e questionou a confiabilidade das urnas — as mesmas que lhe garantiram, no domingo, 48 deputados.
O roteiro é manjado. O Chega entrou no Parlamento em 2019 e galopou no descontentamento do eleitor com os políticos tradicionais. Em cinco anos, tornou-se capaz de direcionar o percurso que o país seguirá.