“Foi uma sensação de morte”, disse ao g1 de Auckland, na Nova Zelândia, de onde embarcaria nesta terça (12) rumo ao Chile.
O voo LA800 fazia a rota entre Sydney e Santiago, com uma escala em Auckland, e levava 263 passageiros e nove tripulantes.
Durante o trecho entre a Austrália e a Nova Zelândia, o Boeing 787 “despencou”, disse Henrique, fazendo com que as pessoas fossem lançadas ao teto da cabine e no chão.
A Latam afirmou que foi uma “forte movimentação” e que as causas estão sob investigação A aeronave pousou em Auckland às 16h26 (0h26 em Brasília) desta segunda. Cerca de 50 pessoas que se feriram ao bater a cabeça no teto receberam primeiros socorros, e 13 foram levadas para o hospital.
As autoridades de aviação do Chile e da Nova Zelândia irão investigar o incidente.
Henrique afirma ter voado do assento no momento em que avião despencou. Ele afirma que foi atirado para o alto e caiu no corredor entre as poltronas.
“Em um piscar de olhos caí duas cadeiras para trás”, disse ele, que estava sem o cinto de segurança. A aeronave estava em voo de cruzeiro, em que o aviso de cintos costuma estar apagado.
Henrique Cidreira em imagem publicada no Instagram — Foto: Reprodução
Durante o tempo em que o avião teve uma queda súbita, Henrique afirmou ter tido a impressão de que a aeronave iria cair.
Henrique mora na Austrália e não vem ao Brasil havia dois anos. O voo que ele e o companheiro pegaram era parte do caminho para cá. Ele deve embarcar de volta nesta terça (12).
“A queda foi repentina, de repente as pessoas que estavam sem cinto foram lançadas para o ar, bateram no teto e então caíram. Muitas bateram a cabeça, se cortaram, havia gente sangrando, muito olho roxo, uma moça trincou duas costelas”, ele diz.
‘Silêncio’
O incidente todo foi rápido, de acordo com ele:
“Não durou nem cinco segundos. Foi algo muito repentino, demorou segundos, e então o avião estabilizou. Nesse momento, parecia que o avião estava desligado, porque ficou um silêncio, mas o voo continuou”.
Henrique conta que os passageiros ficaram em pânico.
“Eu estava no chão, preso entre as cadeiras no corredor, com as pernas para cima. Meu companheiro estava no banco, ele me ajudou e eu voltei para o meu assento. Foi um pânico. Até agora não temos noção do que aconteceu”, afirma ele.
Ele descreve a experiência como traumática, e os passageiros ainda estão sem respostas sobre o que aconteceu –segundo ele, o piloto não falou nada após a perda de altitude.
A maioria dos passageiros voltou aos seus assentos e colocou os cintos, porque não sabiam se o avião enfrentaria uma segunda situação como essa.
Cintos usados como tala
A equipe de bordo tentava ajudar como podia, mas eram poucas pessoas para muitos feridos, ele conta.
“As aeromoças pediam para que as pessoas que tinham cinto de roupa a peça emprestada para fazer tala no braço de uma pessoa, pediam medicação para dor para dar para quem estava ferido. Era gente demais ferida, elas fizeram o melhor que puderam, mas não conseguiam ajudar todo mundo. As crianças choravam, gritavam”, ele afirma.
Henrique diz que a situação só ficou tranquila quando o voo pousou. “Nesse momento, as pessoas bateram palma porque estávamos no chão”, diz.
Incidente em voo da Latam entre Austrália e Nova Zelândia deixa cerca de 50 feridos
Feridos foram levados ao hospital
A Latam disse que 13 pessoas foram levadas a um hospital, e que ninguém corre risco de morte. Entre eles estão três membros da tripulação e 10 passageiros: os dois brasileiros, um francês, quatro australianos, um chileno e dois neozelandeses.
A companhia aérea não informou o estado de saúde de cada um: disse apenas que a maioria dos feridos já recebeu alta. Há um tripulante e um passageiro com “lesões que exigem mais atenção, mas sem risco”. O g1 apurou que esse passageiro não é brasileiro. (Leia a nota na íntegra abaixo)
A Latam informou ainda que está trabalhando com as autoridades competentes para dar apoio às investigações.
Um avião pode mudar de altitude subitamente em razão, por exemplo, de uma turbulência ou da necessidade de descida rápida por uma descompressão. A Latam não informou as causas do incidente.
Segundo a empresa, um “evento técnico” causou um forte movimento do Boeing 787 que fazia o voo. Apesar do incidente, o pouso ocorreu dentro do horário programado.
Imagem do site Flightradar24 mostra trajeto do voo LA800, da Latam, entre Sydney e Auckland; o destaque em vermelho mostra o momento em que houve indicação de uma perda brusa de altitude — Foto: Reprodução/Flightradar24
De acordo com o site Flightradar24, que monitora voos em todo o mundo, “não houve perda significativa de altitude durante o voo”. “[Esse episódio] serve para mostrar que o mais seguro é manter os cintos de segurança afivelados durante o voo enquanto se está sentado”, informou o site em sua conta no X (antigo Twitter).
‘Parecia “O Exorcista”‘
Em depoimento ao jornal “NZ Herald”, um passageiro conta que o avião “simplesmente caiu” em pleno voo: “Não havia turbulência, a gente estava voando suavemente o tempo todo. Eu cochilei e, por sorte, estava com meu cinto de segurança”, diz o homem identificado como Brian Jokat.
Ele relata que viu um passageiro próximo “voando” e batendo no teto. “Eu pensei que estava sonhando. Abri meus olhos e ele estava de costas no teto, olhando pra mim. Parecia ‘O Exorcista’.”
“Os passageiros começaram a gritar. Eu senti como se o avião tivesse embicado pra baixo. Parecia que ele estava no topo de uma montanha-russa”, afirma Jokat, ao jornal.
O serviço emergencial Hato Hone St John foi acionado e enviou 14 veículos ao aeroporto, entre eles 7 ambulâncias, e fez os primeiros-socorros em cerca de 50 pessoas. Uma pessoa foi atendida em estado grave, enquanto as demais apresentaram quadro moderado ou leve.
Segundo nota do St John, 12 feridos foram transferidos ao hospital. Dez foram levados ao Middlemore Hospital, incluindo o paciente gravemente ferido, uma pessoa com ferimentos médios foi levada ao Auckland City Hospital e uma outra pessoa com ferimentos médios foi levada ao Starship Hospital.
Entre as vítimas que precisaram ser levadas ao hospital estão três tripulantes. Sete ambulâncias e outros veículos auxiliares foram até a pista do aeroporto para prestar socorro aos feridos.
A Latam afirma que todos os passageiros e tripulantes tiveram assistência imediata e foram avaliados pela equipe médica do aeroporto.
Por causa do ocorrido, o voo até Santiago acabou sendo cancelado. Uma nova viagem foi marcada para terça-feira (12). A empresa disse que fornecerá hospedagem e alimentação aos passageiros.
Avião Latam, em imagem de arquivo — Foto: LATAM/Divulgação
A Latam informou que lamenta os transtornos e prejuízos que a situação pode ter ocasionado. Leia a nota a seguir.
Nota da Latam
A LATAM Airlines Group relata que o voo LA800, operando na rota Sydney-Auckland-Santiago, com 263 passageiros e 9 membros da tripulação de voo e de cabine, experimentou uma forte movimentação durante o voo, cuja causa está atualmente sob investigação. A aeronave, um B787 com registro CC-BGG, pousou às 16h26min no horário local no Aeroporto de Auckland (00h26min no horário de Brasília), conforme programado.
Como resultado do incidente, 10 passageiros do Brasil (2), França (1), Austrália (4), Chile (1) e Nova Zelândia (2), além de 3 membros da tripulação de cabine, foram levados a um centro médico para confirmar sua condição de saúde, com a maioria sendo liberada logo em seguida. Apenas um passageiro e um membro da tripulação de cabine necessitaram de atenção adicional, mas sem risco de vida.
A LATAM está trabalhando em coordenação com as autoridades competentes para apoiar as investigações sobre o incidente.
Para os passageiros que continuam sua jornada para Santiago, Chile, o voo LA1130 foi programado para 12 de março de 2024, com partida de Auckland às 20h00 no horário local. A LATAM forneceu aos passageiros afetados alimentação, acomodação e transporte devido ao cancelamento do voo.
A prioridade do Grupo LATAM Airlines é apoiar os passageiros e membros da tripulação do voo, e pedimos desculpas por qualquer inconveniente e desconforto que esta situação possa ter causado. Eles também reiteram seu compromisso com a segurança como um valor inegociável dentro de seus padrões operacionais.