Essa foi uma abordagem recorrente entre os arquitetos finalistas do World Architectural Festival (WAF), evento que inclui prêmios internacionais para profissionais da área.
O diretor do evento, Paul Finch, afirmou à BBC Culture que tem visto “uma preocupação muito maior com a sustentabilidade, refletida também no uso de materiais ecológicos e na adoção de princípios de design de casas passivas”.
Realizado anualmente durante três dias em cidades ao redor do planeta, o festival e seu evento irmão, Inside World Festival of Interiors, oferecem um apanhado global das tendências em arquitetura e design de interiores, respectivamente.
Cerca de 550 profissionais pré-selecionados apresentam seus projetos perante um júri, que inclui arquitetos, designers de interiores e até engenheiros.
O processo de julgamento do evento é atipicamente transparente.
No último dia, os arquitetos pré-selecionados apresentam os seus projetos a outro júri e concorrem aos prêmios de Prédio Internacional do Ano, Paisagismo do Ano, Projeto Futuro do Ano e Interior do Ano.
A próxima edição acontecerá no final do ano em Cingapura.
“Muitas casas têm incorporado uma abordagem criativa aos locais e às suas diversas restrições, transformando dificuldades em oportunidades”, diz Finch.
“Há um interesse maior em se saber quanta energia é gasta na fabricação de materiais”, acrescenta Finch.
“A madeira tornou-se cada vez mais popular devido às suas propriedades de absorção de carbono. Os arquitetos também tendem agora a preferir projetos de modernização, em vez daqueles que envolvem demolição e novas construções.”
A BBC Culture analisa oito projetos apresentados em edições recentes do WAF e do Inside.
1. 19 Waterloo Street, Sydney, Austrália
A casa em 19 Waterloo Street criada pela SJB em Sydney não superaquece no verão, mas deixa entrar luz no inverno — Foto: BBC
Vencedora do prêmio WAF para interiores em 2023, esta casa foi projetada pela empresa SJB, com sede em Sydney.
Ela tem uma fachada excêntrica com janelas de tamanhos e espaçamentos irregulares, e um mosaico com materiais reciclados e tijolos quebrados.
As inúmeras aberturas na fachada favorecem a ventilação natural, dispensando a necessidade de ar condicionado.
2. Casa de Pedra Maciça (House of Solid Stone), Jaipur, Índia
Em Jaipur, casa foi criada com arenito de uma pedreira próxima — Foto: BBC
Este projeto recupera um material por muito tempo negligenciado pelos arquitetos locais: o arenito, cujas qualidades robustas e sustentáveis foram ignoradas durante décadas na região.
“Demos a nós mesmos instruções simples: apenas pedra deveria ser usada para a construção. O local parecia mais uma escavação arqueológica do que um canteiro de obras, onde a linha entre o que foi ‘encontrado’ e o que foi ‘feito’ era confusa”, diz Arjun Malik, arquiteto que lidera a Malik Architecture.
Os arquitetos usaram pedra extraída de uma pedreira próxima com ferramentas tradicionais.
A pedra, que tem tons neutros, foi deixada exposta em todo o interior para gerar um efeito homogêneo.
3. Casa Ward, Sarnano, Itália
A Casa Ward foi projetada para resistir a tremores de terra — Foto: BBC
Esta casa de veraneio, propriedade de um casal sueco, resume a tendência atual dos arquitetos de reutilizar materiais existentes encontrados no local.
Neste caso, circunstâncias dramáticas forneceram a matéria-prima: uma casa com vista para as montanhas Sibillini, perto de Sarnano, foi quase reduzida a escombros por um terremoto em 2016.
A nova casa foi projetada pelo arquiteto parisiense Carl Fredrik Svenstedt e sua estrutura de concreto é revestida com os restos da construção original, por dentro e por fora.
Sua forma básica é modelada como uma casa típica, mas com um toque pouco ortodoxo, fazendo com que pareça cortada em segmentos separados.
A casa foi construída para resistir a tremores e sua conexão interior-exterior é reforçada por enormes janelas que emolduram vistas pitorescas, enquanto uma piscina infinita reflete o céu.
4. Galeria residencial Three Spring, Bunurong Land, Austrália
O teto abobadado é uma característica marcante da galeria residencial — Foto: BBC
Esta residência familiar perto de Melbourne, projetada pelos arquitetos locais da KGA Architecture, abriga uma coleção de obras de artistas australianos.
A construção assimétrica possui duas áreas separadas indiretamente conectadas por corredores oblíquos em vez de portas convencionais.
Há uma espetacular biblioteca de pé-direito duplo com janelas altas em arco.
As janelas têm vista para um jardim com enormes piscinas ornamentais.
No interior, uma paleta quente e terrosa (principalmente com tons de ocre, terracota e berinjela) foi escolhida para se integrar às cores naturais da paisagem circundante.
A geométrica casa LRM, do Studio AG Arquitetura em São Paulo, é repleta de luz e tem uma sala aberta — Foto: BBC
Esta casa retangular e claramente geométrica ocupa um terreno longo e estreito que tem, nas laterais, imóveis imediatamente adjacentes.
O principal objetivo do Studio AG Arquitetura, com sede em São Paulo (SP), foi criar uma sensação de mais espaço, algo que foi conquistado principalmente com a instalação de vidros abundantes e a conexão da casa com um jardim. Também foram contruídos dois andares adicionais.
O longo piso térreo contém uma cozinha, sala de estar e sala de jantar. Um gramado adjacente à sala de jantar leva a uma área coberta para refeições ao ar livre.
No segundo piso estão os quartos e, no terceiro, escritório, academia, sauna e piscina externa.
As janelas foscas do chão ao teto dão privacidade e favorecem a ventilação natural.
6. Casa Mawhitipana, ilha Waiheke, Nova Zelândia
A Casa Mawhitipana prioriza um estreito contato dos moradores com a natureza — Foto: BBC
Os proprietários desta casa de veraneio disseram aos arquitetos do escritório MacKay Curtis, com sede em Wellington, que gostariam de estar em contato direto com a natureza, com áreas ao ar livre para passar mais tempo fora do que dentro de casa.
Situada no alto de uma encosta íngreme, a casa em grande parte revestida de madeira oferece vistas deslumbrantes da Baía de Mawhitipana.
Um deck externo se estende pelo terreno e passa por árvores sem perturbar suas raízes.
As venezianas de madeira com frestas favorecem a ventilação natural e também permitem que o som das ondas da praia adentrem no interior da casa.
7. Apartamento Orla, Rio de Janeiro, Brasil
Há materiais naturais em todo o Apartamento Orla, no Rio, desenhado pelo Studio Arthur Casas — Foto: BBC
A impressionante vista panorâmica da praia de Ipanema é um dos principais atrativos deste apartamento.
Os arquitetos do Studio Arthur Casas, com sede em São Paulo (SP), projetaram o imóvel para um casal com dois filhos pequenos.
O uso extensivo de materiais naturais em toda a casa, incluindo pisos de pedra na sala de estar e paredes revestidas de madeira, assim como os tons arenosos, contribuem para criar um ambiente relaxante.
Ao demarcar vistas ao ar livre, essas cores tranquilas ajudam a atrair a atenção para o exterior.
8. Casa da Bandeira (Flag House), Whistler, Canadá
A Flag House fica no Canadá, mas foi projetada por um escritório brasileiro — Foto: BBC
O brasileiro Studio MK27 projetou a Flag House, uma casa de veraneio em Whistler, no norte de Vancouver.
Seus proprietários tinham visto alguns projetos do MK27 no Brasil e encomendaram para o estúdio o projeto de sua casa.
O estúdio, fundado por Marcio Kogan nos anos 1970, é conhecido por suas casas modernistas adaptadas para um clima tropical.
Mesmo com o clima nada tropical do Canadá, os arquitetos aplicaram um dos seus princípios-chave nesse projeto: estabelecer uma forte conexão entre o interior e o exterior.
A casa horizontal, relativamente baixa, integra-se perfeitamente com a paisagem.
Ela é composta por duas formas quadradas, um posta sobre a outra.
A maior, um espaço habitável com fachada de vidro, é sustentada por uma base revestida de madeira escura; o piso superior parece flutuar sobre essa “caixa inferior”.
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