O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reconheceu que seu discurso na área da segurança pública teve impacto na recente onda de violência policial no estado.
“Tem hora que a gente tem que parar para pensar, fazer uma profunda reflexão e ver onde é que nós estamos errando. Por que é que nós estamos errando? Onde é que nós erramos no discurso? E aí eu concordo com a professora Joana, o nosso discurso tem peso“, disse em um evento na noite desta sexta-feira 7.
A fala de Tarcísio ocorre em meio a uma série crescente de denúncias de abuso de poder e homicídios cometidos por policiais no estado. Episódios como o do homem arremessado de uma ponte por um policial militar e os tiros nas costas disparados por um PM de folga contra um suspeito de roubar produtos de limpeza, geraram uma crise que o governador tenta contornar.
O bolsonarista, que já chegou a dizer no começo do ano que não estava ‘nem aí’ para as denúncias de violência policial, agora mudou opinião e passou a defender medidas para reduzir os casos no estado. “Às vezes, se a gente erra no discurso, a gente dá o direcionamento errado e a gente traz consequências erradas. E isso é fácil de ser percebido, hoje”, disse no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), na capital paulista.
Tarcísio se referiu à professora Joana Monteiro, coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que havia falado antes dele. Segundo ela, a retórica das autoridades têm efeito preponderante sobre os policiais e discursos populistas sobre uso da força acabam por se voltar contra a própria tropa.
O governador assumiu ainda que não tem respostas sobre como equilibrar seu discurso para que não pareça um “salvo-conduto” aos policiais e, ao mesmo tempo, garanta que as normas de segurança sejam cumpridas.
“Como modular o discurso para garantir, de fato, segurança jurídica, mas também o atendimento às normas, o atendimento aos procedimentos operacionais? Como não permitir o descontrole? Como deixar claro que não existe salvo-conduto? Então, observem que eu tenho, no final das contas, uma série de dúvidas. Não tenho respostas”.
Câmeras corporais
Tarcísio voltou a dizer que se arrepende de seu posicionamento sobre o uso de câmeras corporais pelos policiais. Desde o começo de seu mandato, em 2023, o governador se mostrava contrário ao uso do equipamento.
“A política de câmeras é uma política que eu particularmente me arrependo muito da postura reativa que eu tive lá atrás. Essa postura vem da percepção que aquilo poderia tirar a segurança jurídica do agente ou mesmo causar hesitação no momento em que ele precisava atuar”.
Pesquisas já mostravam, no primeiro ano de mandato do governador, que, depois que a Polícia Militar de São Paulo passou a adotar câmeras corporais portáteis nos uniformes de alguns agentes, a letalidade provocada por policiais em serviço caiu.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), após a adoção do dispositivo, a queda na letalidade policial foi de 62,7% no estado, passando de 697 mortes em 2019 para 260 em 2022.
(Com informações da Agência Brasil).