Política
Bolsonaro viajou aos EUA para evitar prisão e esperar desfecho do 8 de Janeiro, diz PF
O plano teria sido criado ainda em 2021, dias após o ex-presidente atacar ministros do STF e o sistema eleitoral nos discursos de 7 de Setembro
Por Wendal Carmo 26.11.2024 19h55 | Atualizado há 1 horas
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP
A viagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos Estados Unidos dias antes da posse de Lula (PT) aconteceu com o objetivo de evitar sua prisão após a tentativa de reverter o resultado das eleições fracassar, aponta a Polícia Federal. A informação consta do relatório final sobre a tentativa de golpe de Estado.
No exterior, segundo a corporação, Bolsonaro aguardaria o desfecho dos atos golpistas realizados em 8 de Janeiro, quando seus apoiadores invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.
O relatório da PF diz que o plano foi criado ainda em 2021, dias após o ex-presidente atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e o sistema eleitoral nos seus discursos de 7 de Setembro daquele ano. Documentos apreendidos pela corporação ao longo da investigação mostraram que a estratégia dos aliados de Bolsonaro incluía até mesmo o uso de armamento.
Para a viagem no final de 2022, o planejamento foi adaptado. Na avaliação dos investigações, a discussão em torno da fuga do ex-capitão demonstrava a persistência dos seus aliados em protegê-lo e garantir sua liberdade. Bolsonaro ficou três meses nos EUA, retornando ao Brasil em março de 2023.
Foram elaboradas três fases para a concretização do plano, sustentou a PF:
- A primeira, “Proteção do Pr no Planalto e Alvorada – sem apoio do GSI“, previa a cooptação de militares do Gabinete de Segurança Institucional para ocupar posições estratégicas nos palácios do Planalto e da Alvorada. Essa etapa incluía a disponibilização de armamento e munição “em condições de uso imediato”, armazenados em cofres prontos para acesso rápido, caso necessário.
- A segunda era descrita como “Condições de ocupar Etta Estrg como forma dissuasória para mostrar apoio ao Pr”. O termo ‘Etta Estrg’ refere-se, segundo a PF, às “estruturas estratégicas ou infraestrutura crítica, cuja interrupção ou destruição teria impacto significativo no Estado e na sociedade”. O objetivo seria ocupar instalações críticas para intimidar medidas judiciais ou institucionais contra Bolsonaro, criando um cenário de pressão física e simbólica.
- A terceira previa a retirada do ex-presidente do País, descrita como “montar e operar um RAFE/LAFE para exfiltrar o Pr para o exterior”. A operação consistiria em criar uma rede de apoio logístico e militar para garantir a fuga do ex-presidente. A sigla RAFE/LAFE é utilizada em contextos militares para se referir a evacuações rápidas e discretas, com foco em evitar interceptações por autoridades nacionais ou internacionais.
“A criação de uma rede de apoio militar para retirar o ex-presidente do país reflete o temor de que ele pudesse ser responsabilizado por seus atos após deixar o cargo”, observaram os investigadores da PF no relatório. O sigilo das investigações foi levantado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes nesta terça-feira.
Bolsonaro e outras 36 pessoas – incluindo ex-ministros e militares de alta patente – foram indiciados na semana passada por três crimes: golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. As conclusões do inquérito agora estão nas mãos da Procuradoria-Geral da República, que deve se manifestar sobre o andamento do processo.
Wendal Carmo
Repórter do site de CartaCapital
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