Em ataques do chamado “eixo da resistência” em múltiplas arenas no Oriente Médio, o Irã tenta mostrar poder e a sua rede de influência regional contra os EUA e Israel sem precisar entrar em conflito direto. A atuação dessa frente de aliados vem ganhando destaque desde o massacre do Hamas em Israel, em 7 de outubro, seguido da guerra na Faixa de Gaza, e extrapolou as fronteiras do enclave palestino, com conflitos em Iraque, Síria, Iêmen, Líbano e, mais recente, no Paquistão.
O “eixo” coordenado pelo Irã é predominantemente formado por milícias xiitas e tem entre os pilares principais Hezbollah, Houthis, Hamas (o único sunita) e facções de apoio no Iraque e na Síria. O regime dos aiatolás opera fornecendo armamento e treinamento para a rede de aliados, que não respondem ou se submetem a governos.
Dessa forma, o regime procura atingir indiretamente seus alvos (novamente EUA e Israel), encorajando os parceiros em confrontos por procuração. Tem sido assim no envolvimento direto do Hezbollah no conflito entre Israel e Hamas, com ataques sucessivos na fronteira com o Líbano, o que levou o Exército israelense a remanejar forças para o Norte.
Os rebeldes Houthis, que controlam parte do Iêmen, atuam com drones e mísseis para impedir a circulação marítima da navegação comercial pelo Mar Vermelho. A coalizão liderada pelos EUA já realizou três ataques na última semana contra bastiões rebeldes no Iêmen.
Desde o início da guerra, milícias apoiadas pelo Irã vêm atacando bases e forças americanas no Iraque e na Síria, aumentando a instabilidade na região. Nesta terça-feira, o Irã lançou mísseis contra alvos no Norte do Iraque e abriu uma nova frente ao bombardear bases de um grupo terrorista sunita no Paquistão.
As milícias aliadas do regime iraniano também aproveitam o conflito Israel-Hamas para chamar atenção e ampliar as suas conquistas políticas. “O eixo da resistência é uma máquina aparentemente bem lubrificada guiada pelo Irã, apesar das declarações de Teerã e das organizações aliadas de que operam de forma independente, sem orientação ou ditames do regime dos aiatolás” pondera o analista Zvi Bar’el, do jornal israelense “Haaretz”.
No seu entender, quanto mais durar a guerra em Gaza, mais ficará claro que cada um dos elos deste eixo explora a parceria com o Irã para promover seus próprios interesses. “E eles não são necessariamente os mesmos da República Islâmica”, acrescenta Bar’el.
Os pesquisadores Narges Bajoghli e Vali Nasr, da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Johns Hopkins, consideram que a guerra em Gaza mudou o Oriente Médio e deu ao eixo da resistência a sua maior oportunidade até agora para desencadear um ataque militar e de comunicações ao Ocidente.
“Uma imensa raiva pública foi despertada, e a animosidade em relação ao Ocidente poderá desencadear um novo extremismo e instabilidade política. Para os governantes da região, mesmo os que Washington considera aliados, a guerra mudou pressupostos fundamentais sobre a sua própria segurança e as relações com o Ocidente”, ponderam, em artigo publicado pela revista “Foreign Affairs”.
A análise dos pesquisadores é seguida de um alerta: “Os EUA não podem desmantelar facilmente o eixo nem derrotar as ideias que geraram.” Uma prova disso é que esta rede de influência iraniana sobreviveu ao assassinato de Qasem Suleimani, ex-comandante da Força Quds da Guarda Revolucionária Iraniana e principal arquiteto do eixo da resistência.
Quatro anos depois da morte do general, num ataque aéreo ordenado pelo ex-presidente Trump, seu legado se mostra atuante e com potencial para desestabilizar o cenário regional.