Nos últimos dias, cenas de prisões violentas de estudantes e professores evocaram memórias dos protestos de 1968, contra a guerra do Vietnã, que começaram nas universidades e se espalharam, resistindo até a convenção democrata de Chicago.
A candidatura do então vice-presidente Hubert Humphrey foi seriamente abalada pelas imagens de confrontos, que refletiam também um partido dividido sobre a guerra. O democrata acabou sendo derrotado em novembro pelo republicano Richard Nixon.
A cidade receberá em agosto os delegados do Partido Democrata e pode testemunhar um revival de 1968, se não houver um acordo com os manifestantes. Os que esperam simplesmente pelo fim do semestre letivo como uma solução para dispersar naturalmente os manifestantes fazem uma aposta imprudente, na opinião do colunista Charles M. Blow, do “New York Times”.
Líder estudantil concede entrevista durante ato estudantil na Universidade de Columbia, em 1968 — Foto: Associated Press/Arquivo
“Parece haver uma sensação na campanha de Biden de que os manifestantes se irão, que as paixões acabarão por desaparecer e que os eleitores democratas entrarão na linha quando nos aproximarmos do dia da eleição e a escolha entre Biden e Trump se tornar mais difícil”, analisa o colunista. “Essa é uma questão moral para eles e a sua posição não será facilmente alterada.”
Aprovação em queda
Uma pesquisa da CNN publicada no domingo mostra que o apoio à gestão de Biden em relação à guerra em Gaza vem despencando: 28% em abril contra 34% em janeiro.
O presidente americano apoiou fortemente Israel após o massacre do Hamas, mas vem manifestando publicamente divergências com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em relação às mortes de civis, às dificuldades no acesso à ajuda humanitária no enclave palestino e a uma operação militar em Rafah.
Essa linha tênue cruzada nos últimos meses por Biden não aplacou a ira dos manifestantes, sobretudo após a aprovação do pacote de ajuda militar de US$ 26 bilhões para Israel. O voto “não comprometido” se manifestou como protesto em primárias democratas importantes. Neste sábado, os protestos alcançaram a parte externa do jantar anual de Biden com correspondentes da Casa Branca, em Washington, onde os jornalistas foram hostilizados por manifestantes.
Os acampamentos nos campi se ancoram no direito à liberdade de expressão, mas parecem se distanciar das demandas iniciais — cessar-fogo em Gaza, fim da ajuda militar dos EUA a Israel e corte de laços das universidades com empresas israelenses ou outras que lucrem com a guerra.
Os manifestantes são acusados de assumirem a vertente antissemita quando entoam cânticos que glorificam as ações do Hamas no massacre de 7 de outubro, negam a existência de Israel e promovem agressões e intimidações a estudantes judeus.
Até agora, as reitorias e os políticos não encontraram a fórmula para lidar com a insatisfação nos campi. Para Biden, perder o vínculo com essa coligação estudantil em novembro seria letal.