O pedido de impeachment foi movido por congressistas republicanos, em mais uma tentativa de fortalecimento das pautas do partido na questão fronteiriça para o pleito.
A Câmara dos Representantes votou dois artigos que acusam o ministro do presidente democrata, Joe Biden, de não fazer cumprir a lei e de ter violado a confiança pública.
Os republicanos têm uma maioria na Câmara, mas mesmo assim perderam na votação após quatro membros do partido ficarem ao lado dos democratas. A votação terminou com 216 votos contra a abertura do impeachment de Mayorkas e 214 a favor.
Os republicanos argumentam que o país está sendo “invadido” por imigrantes, cujas chegadas batem recordes, com 302 mil interceptações em dezembro de 2023.
“Embora seja imperdoável, sua incompetência não constitui motivo de impeachment segundo a Constituição”, sentenciou o republicano Ken Buck, que representa o 4º distrito do estado do Colorado.
Os democratas, do partido de Biden, votaram contra o que consideram uma tentativa de transformar Mayorkas em bode expiatório em um ano eleitoral.
O ex-presidente Donald Trump, o favorito para vencer as prévias republicanas contra Nikki Haley e disputar a Casa Branca nas eleições gerais, tem os tema da fronteira com o México e política migratória como um dos pilares de sua retórica desde seu primeiro mandato, entre 2016 e 2020.
Se os congressistas republicanos que votaram contra tivessem votado a favor da acusação, seria a primeira vez em 150 anos que um processo de impeachment seria aberto contra um alto funcionário do governo. Isso só aconteceu em 1876 com o secretário de Guerra William Belknap.
O processo de impeachment se desenvolve em duas etapas. Em primeiro lugar, a Câmara dos Representantes vota, por maioria simples, os artigos de acusação. É o que aconteceu nesta terça (6). Mesmo que a votação tivesse prosperado, ela passaria depois para o Senado, onde os democratas têm maioria.
Alejandro Mayorkas, de 64 anos, acusou os republicanos de lançarem mão de uma “manobra política” e de “desperdiçarem” tempo e dinheiro dos contribuintes.
A votação ocorreu em meio a uma grande tensão política em torno da crise na fronteira. No domingo (4), foi divulgado um pacote legislativo negociado por senadores republicanos e democratas com o governo Biden que permitiria restringir o fluxo de migrantes na fronteira.
O endurecimento da política migratória foi uma condição imposta pelos republicanos para a aprovação de mais recursos para a Ucrânia e de uma ajuda para Israel, também incluídos no pacote.
A linha-dura dos republicanos, bastante influenciada por Trump, é contrária a esse texto, que endurece o padrão das avaliações para concessão de asilo.
“Por quê? Por uma simples razão: Donald Trump. Porque Donald Trump acha que é ruim para ele politicamente. Portanto, embora ajude seu país, ele não é a favor”, disse Biden nesta terça-feira na Casa Branca.
Migração como arma
Segundo pesquisas, o eleitor republicano está mais preocupado com a migração do que com qualquer outro assunto, o que explica por que se tornou uma lança eleitoral entre os dois partidos para as presidenciais, nas quais provavelmente se repetirá o duelo entre Trump e Biden.
“Nas últimas 24 horas, ele (Trump) não fez nada, disseram a mim, exceto procurar os republicanos da Câmara e do Senado, ameaçá-los e tentar intimidá-los. Parece que estão cedendo. Francamente, eles devem mostrar alguma coragem ao povo americano e fazer o que sabem que é o correto”, afirmou Biden.
O democrata acusa Trump de usar o tema migratório “como uma arma, em vez de resolvê-lo”.
Trump, por sua vez, classificou o discurso de Biden como “uma mentira descarada e patética”, em comunicado divulgado por sua equipe de campanha.
“Os Estados Unidos não precisam de um projeto de lei ‘fronteiriça’ que não faça nada para dissuadir a migração ilegal. Precisamos de um presidente que use sua autoridade executiva para fechar a fronteira. Joe Biden claramente se nega a fazê-lo, mas o presidente Trump o fará no primeiro dia, se retornar à Casa Branca”, disse a equipe do ex-presidente.