Um áudio obtido pela Polícia Federal revela que o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tratou da tentativa de golpe de Estado no fim de 2022 com o general Mário Fernandes, preso e indiciado na semana passada.
A gravação, de 8 de dezembro, é parte da investigação da PF sobre a conspiração golpista para manter Bolsonaro no poder após a derrota para Lula (PT). A corporação indiciou Bolsonaro, Cid e mais 35 pessoas sob suspeita dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Em uma das mensagens capturadas pela polícia, Cid afirma que o plano deveria ser entrar em ação “antes do dia 12”. Em 12 de dezembro, ocorreu a diplomação de Lula e de Geraldo Alckmin (PSB) na sede do Tribunal Superior Eleitoral.
“Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12, né? Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo, né? É área militar, ninguém vai se meter”, disse Cid.
Ele se referia aos acampamentos golpistas instalados em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Veículos chegaram a ser multados por estacionar perto do local.
Na gravação, o tenente-coronel também afirmou que conversaria com Bolsonaro.
“Não, pode deixar, general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, né? Ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, né? Não dá pra esperar muito mais passar, né?”
Naquele dia, Mario Fernandes havia relatado a Cid um diálogo com Bolsonaro: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”.
Fernandes também fez uma solicitação direta ao ajudante de ordens de Bolsonaro: “Estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas, pô, se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar. Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG. E hoje chegou para a gente que parece que existe um mandado de busca e apreensão do TSE, não, do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá”.