Como parte dos pacotes de cortes de gastos anunciados por Milei desde que tomou posse como presidente da Argentina, Milei reduziu drasticamente bolsas de estudos para estudantes e pesquisadores e congelou a maioria dos programas de pesquisa do governo argentino.
“Isso causará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído e que exigiria muitos mais para ser reconstruído”, afirmaram os cientistas na carta.
O documento foi entregue a Milei e divulgado pelo químico britânico Richard Roberts, vencedor do Nobel de Medicina de 1993.
Como parte de seu plano de redução do déficit fiscal, o governo de Milei manteve para 2024 o mesmo orçamento que o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) teve em 2023. No entanto, com a inflação interanual do país na casa dos 254%, o valor atualmente levará o Conicet à falência, alertaram os cientistas.
Entre os signatários da carta, estão:
- Vinte e um ganhadores do Prêmio Nobel de Química, como Thomas R. Cech (1989) e Martin Chalfie (2008);
- Vinte e seis vencedores do Nobel de Medicina, como Harvey J. Alter (2020) e Werner Arber (1978);
- Vinte ganhadores no prêmio na categoria Física, como Barry Clark Barish (2017) e Ferenc Krausz (2023);
- E o ganhador do Nobel de Economia Finn E. Kydland (2004).
“Tememos que a Argentina esteja abandonando seus cientistas, estudantes e futuros líderes da Ciência. Nos preocupa que a dramática desvalorização dos orçamentos do Conicet e das Universidades Nacionais reflita não só uma dramática desvalorização da ciência argentina, como também uma desvalorização do povo argentino e do futuro da Argentina”, afirmaram os ganhadores do Nobel.
Eles também pontuaram “preocupação com a eliminação do Ministério da Ciência e Tecnologia, a demissão de funcionários administrativos do Conicet e outros institutos em todo o país, e o encerramento antecipado de muitos contratos no próximo mês”.
Nuria Giniger, pesquisadora do Conicet e secretária da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), disse à agência de notícias AFP que a carta “fortalece a luta dos trabalhadores” da entidade.
A carta também enumera as contribuições de cientistas argentinos em diversos temas da ciência. E destaca que “todos esses avanços foram consequência do apoio governamental à pesquisa básica”.
Na terça-feira, Milei reproduziu nas suas redes sociais a publicação de um usuário que dizia: “Se estou tendo picos de êxtase com o fechamento da [agência de notícias estatal] Télam, realmente não imagino o que pode me causar quando jogarem por terra meio ‘Ñoquicet'”, usando um jogo de palavras para acusar os cientistas de ganhar sem trabalhar, o que se demonina “ñoqui” (nhoque) na Argentina.
“Essa, realmente, é a mãe de todas as batalhas. Aí é preciso entrar com a motosserra e expurgar com gosto”, prosseguiu a publicação reproduzida pelo presidente.
Estudante desmaia durante discurso de Milei em escola na Argentina