O caso aconteceu na quinta-feira (29). Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, mais de 100 pessoas foram mortas enquanto aguardavam por ajuda.
O grupo ainda acusou Israel de abrir fogo contra palestinos que estavam no local. Por outro lado, as Forças Armadas israelenses disseram apenas que houve “empurrões e correria”, com mortos e feridos.
O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para tratar do assunto. O encontro aconteceu com portas fechadas. De acordo com a Associated Press, países árabes tentaram obter apoio por uma declaração para culpar as forças israelenses pelas mortes.
Após o fim da reunião, o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, afirmou que 14 dos 15 membros do conselho apoiaram a declaração, que foi apresentada pela Argélia. O único país que não concordou foram os Estados Unidos.
Por ser membro permanente do conselho, o voto contrário dos Estados Unidos representa um veto à declaração, mesmo com todos os outros países concordarem com o assunto debatido.
O vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, justificou a negativa norte-americana por não se ter “todos os fatos” sobre o caso. Ele disse ainda que existem relatos contraditórios em relação ao ocorrido, inclusive sobre as “circunstâncias em torno de como as pessoas morreram”.
Ainda segundo Wood, os diplomatas estão trabalhando para encontrar uma linguagem a qual “todos possam concordar”.
Guterres quer investigação independente
António Guterres durante discurso na ONU em 25 de outubro de 2023 — Foto: ONU via REUTERS
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou nesta quinta-feira que as mortes durante a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza exigem uma investigação independente e eficaz.
Guterres disse estar chocado com o caso e afirmou que o agravamento das divisões geopolíticas “transformou o poder de veto num instrumento eficaz de paralisia da ação do Conselho de Segurança”.
“Estou totalmente convencido de que precisamos de um cessar-fogo humanitário e da libertação incondicional e imediata dos reféns e que deveríamos ter um Conselho de Segurança capaz de alcançar estes objetivos”, disse.
Mortes
“Fomos buscar comida e farinha e eles começaram a atirar em nós”, relata palestino
O governo do Hamas acusou soldados israelenses que intermediavam a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza de abrir fogo contra palestinos, na manhã de quinta-feira.
Sob condição de anonimato, uma autoridade do governo de Israel disse à agência de notícias Reuters que as tropas israelenses dispararam diversas vezes porque os soldados teriam se sentido ameaçados.
O jornal americano “New York Times” publicou um relato semelhante, também sem revelar a identidade da autoridade israelense. A agência de notícias Associated Press afirma, com base em testemunhas, que soldados israelenses atiraram.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, disse que dezenas de pessoas morreram em pisoteamentos e brigas para pegar os suprimentos dos caminhões.
Em um segundo momento, segundo Hagari, os tanques que faziam escolta armada dos caminhões fizeram disparos de aviso para dispersar a multidão e se afastaram quando a situação piorou. “Não houve ataque das Forças de Defesa de Israel em direção ao comboio”, afirmou.
Hagari disse ainda que os militares israelenses estavam no local “conduzindo uma operação humanitária para garantir o corredor humanitário para que os itens de ajuda cheguem ao local de distribuição”.