Política
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Fio da navalha
Entre a ira do mercado e a chantagem do Centrão, o governo busca um alívio para a segunda metade do mandato
Por André Barrocal 05.12.2024 17h22
Haddad tem o apoio da federação 1340dos bancos – Imagem: Paulo Pinto/Agência Brasil
O governo discutiu por dois meses medidas de controle de gastos públicos antes de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar as linhas gerais em cadeia de rádio e tevê na noite de 27 de novembro e detalhá-las em uma coletiva de imprensa no dia seguinte. O pacote contém propostas dolorosas para um presidente eleito e apoiado principalmente pelos mais pobres. Contenção do aumento no salário mínimo, redução do número de beneficiários do abono salarial, pente-fino em programas sociais. Um ministro que participou no gabinete presidencial de reuniões preparatórias do plano afirma: Lula sempre deixou claro que o peso do ajuste não poderia cair apenas nas costas do povão. A tentativa de barrar supersalários no serviço público, a gastança parlamentar com verbas do orçamento e alguns privilégios das Forças Armadas foi pensada para repartir o ônus dos 70 bilhões de reais de ajuste fiscal nos dois últimos anos de Lula. “Queríamos que todo mundo pagasse a conta, mas nenhuma medida pegava o andar de cima”, diz uma testemunha dos acontecimentos.
A certa altura de uma reunião na qual Lula explicitou a necessidade de os mais ricos terem algum ônus, prossegue a testemunha, Haddad comentou que havia estudos amadurecidos na equipe econômica sobre taxar mais os abonados. Misturar ajuste e imposto era algo que o titular da Fazenda preferia evitar, para não melindrar o “mercado”, à espera de sangue e carne. A taxação maior estava em exame há tempos. É a solução para compensar a perda de arrecadação que o governo terá se conseguir cumprir uma promessa eleitoral de 2022, isentar do Imposto de Renda quem ganha até 5 mil reais por mês. “O que mais brilhou o olho do presidente (nas reuniões) era botar o rico no IR”, afirma a testemunha.
André Barrocal
Repórter especial de CartaCapital em Brasília
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