Flaco nasceu em cativeiro e chegou ao Zoológico do Central Park ainda filhote, 14 anos atrás. Ele é uma coruja bufo-real da espécie Bubo bubo endêmica das regiões da Europa, Ásia e Oriente Médio. O animal foi libertado durante a noite por uma pessoa que abriu um buraco em sua gaiola. Até hoje as autoridades não descobriram quem cometeu o crime. (leia mais abaixo)
Desde sua libertação, a coruja se tornou uma figura notória na cidade. Mas por que Flaco virou tão querido pelos novaiorquinos?
Os moradores da cidade acompanharam a evolução da coruja, desde o momento da fuga de sua gaiola, em que ainda estava aprendendo a lidar com a liberdade, até Flaco desenvolver plenamente suas habilidades de voo, caça e sobrevivência.
Segundo a colunista do New York Times Michiko Kakutani, “é fácil os nova-iorquinos se enxergarem em uma pequena coruja rechonchuda que abandonou seu apartamento de um cômodo em troca da vastidão da natureza”, e que aqueles confinados em apartamentos pequenos durante a pandemia de Covid-19 se identificariam com a história de Flaco.
A gaiola de Flaco no Zoológico do Central Park era pequena, tinha cerca do dobro da largura da extensão de suas asas abertas. “Seu habitat era ridículo. Era a coisa mais triste que eu já vi”, diz Nicole Barrantes, gerente de campanha de vida selvagem da World Animal Protection.
“As pessoas que chegam a Nova York precisam aprender novas habilidades rapidamente se quiserem sobreviver e devem se adaptar a um ambiente diferente daquele de onde vieram. No sucesso de Flaco, eles veem o deles próprios – ou inspiração para continuar trabalhando em direção aos seus objetivos”, diz David Barrett.
Barrett é responsável pela conta Manhattan Bird Alert no X (antigo Twitter), que documenta em tempo real a localização da ave.
“Ele é o azarão desde o início. As pessoas não esperavam que ele sobrevivesse. Os nova-iorquinos criaram um laço com ele por causa de sua resiliência.”, comenta Jacqueline Emery, uma das várias observadoras de aves que compartilha nas redes sociais os movimentos diários de Flaco com os admiradores do animal.
Segundo especialistas, os perigos da cidade são muitos para um animal silvestre. De ratos infectados ao tráfego de veículos, o temor era que Flaco não sobrevivesse por muito tempo. (leia mais abaixo)
“Para mim, o herói popular é o Flaco. É algo incrível: ele vive toda a sua vida em cativeiro e, em questão de dias, ensinou a si mesmo a voar e a caçar ratos”, diz Barrett.
Perigos da cidade
Após sua libertação, o temor era que Flaco não sobrevivesse. Mas, para a surpresa de muitos especialistas, a coruja está prosperando na selva urbana de Nova York.
O animal usou seu instinto de predador para aprender habilidades que alguns temiam que não tivesse desenvolvido durante uma vida em cativeiro:
- Durante o dia, Flaco relaxa nos pátios e parques de Manhattan ou pousa em escadas de incêndio.
- A coruja passa as noites cantando no topo de caixas d’água e caçando ratos, que existem em abundância na cidade.
Mesmo com suas habilidades de caça, a cidade tem uma série de ameaças a Flaco, incluindo um sério risco de se envenenar ao se alimentar de ratos infectados com chumbinho. Em 2021, outra coruja do Central Park, Barry, morreu ao ser atingida por um caminhão após ingerir uma dose letal de veneno para ratos, que pode ter prejudicado seu voo.
“Todos os perigos ainda estão lá”, diz Suzanne Shoemaker, diretora do Owl Moon Raptor Center em Maryland. “Ele mostrou bons instintos para conseguir chegar até aqui. Mas ele também tem sorte”, completa.
Por que não descobriram até hoje quem libertou Flaco?
Um ano depois da libertação de Flaco, o culpado não foi identificado. A polícia e as autoridades do Zoológico do Central Park nunca compartilharam qualquer evidência ou pista sobre algum suspeito. Não há informações públicas sobre o crime desde fevereiro de 2023, quando o zoológico suspendeu os esforços para recapturar a ave.
Internamente, o zoológico procurou amenizar as descrições da gaiola do Flaco, em uma estrutura do tamanho de uma minivan decorada com uma vista de montanha pintada, supostamente pequena para uma coruja.
Em e-mails internos obtidos pela Associated Press por meio de um pedido de Acesso à Informação, oficiais do zoológico pediram ao Departamento de Parques para que não dissessem publicamente que Flaco foi “criado em cativeiro”. Da mesma forma, o termo “fuga” deveria ser evitado.
Na ausência de informações oficiais, teorias sobre o crime são abundantes. Mas a explicação mais plausível é que ele foi libertado por motivos ideológicos. Defensores da teoria de libertação animal apontam para a natureza aparentemente direcionada do crime, bem como as limitações do modesta moradia da coruja.
“Não ficaria surpresa se fosse alguém que amava Flaco e queria vê-lo livre”, diz Nicole Barrantes, da World Animal Protection. Após a libertação de Flaco, ela iniciou uma petição contra seu retorno ao zoológico.
Um porta-voz da Wildlife Conservation Society, que opera o Zoológico do Central Park desde 1988, não respondeu às alegações de que o habitat de Flaco no zoológico seria inadequado.
“Este foi um ato criminoso que colocou em risco a segurança da ave”, afirmou o zoológico em comunicado, acrescentando que continuam monitorando relatos sobre a atividade e bem-estar de Flaco e estão “preparados para retomar os esforços de recuperação se ele apresentar algum sinal de dificuldade ou estresse”.
Invasões e vandalismo são táticas comuns utilizadas por ativistas da libertação de animais. Essas ações são divulgadas pelo North American Animal Liberation Press Office, um banco de dados online anônimo.
O porta-voz do grupo, Jerry Vlasak, afirmou que ninguém reivindicou a responsabilidade pela fuga de Flaco. “Nunca recebemos um aviso, mas certamente estamos felizes que tenha acontecido”, diz.