Antes de chegar à governadora, a emenda para barrar a volta da lei foi aprovada na Câmara e no Senado com a ajuda de políticos republicanos, que votaram contra sua legenda. A assinatura de Hobbs aconteceu apenas um dia após a decisão do Senado, que teve 16 votos a favor e 14 contra.
Com a revogação formalizada nesta quinta, o direito ao aborto no Arizona volta a ser como era em lei promulgada em 2022 pelo republicano Doug Ducey, antecessor de Hobbs: o procedimento é proibido a partir de 15 semanas de gravidez.
A lei estadual de 1864, que criminaliza todos os tipos de aborto, exceto quando a vida da mãe está em risco, foi reativada pela Suprema Corte do estado no início de abril. A decisão recebeu diversas críticas de diversos grupos dos EUA, inclusive da própria governadora do Arizona e do presidente Joe Biden. (Leia mais abaixo)
Após a aprovação da revogação da lei na quarta (1), Hobbs elogiou a decisão do Senado: “Fico feliz em ver que o Senado atendeu ao meu apelo e votou para revogar a proibição total do aborto de 1864. Embora isso seja essencial para proteger a saúde das mulheres, é apenas o começo. Nunca vou parar de lutar pelos direitos reprodutivos das mulheres”.
A lei antiaborto de 160 anos de idade poderia ter entrado em vigor em até 60 dias caso não fosse anulada, segundo a procuradora-geral do estado Kristin Mayes.
Lei polêmica
Suprema Corte do Arizona, composta por cinco homens e duas mulheres, reativa lei de 1864 contra o aborto no estado. — Foto: Matt York/Foto de arquivo AP
Com a decisão tomada pela Suprema Corte do Arizona, composta por sete juízes nomeados por governadores republicanos, a lei de 1864 “volta a ser aplicável”. A corte é composta por cinco homens e duas mulheres.
A votação no Senado foi marcada por dois senadores republicanos que votaram a favor da revogação, contra seus colegas de partido. O mesmo aconteceu quando a pauta ainda estava na Câmara, quando alguns políticos republicanos também contrariaram o partido e votaram junto com democratas.
Revolta
A reativação da lei antiaborto de 1864 pela Suprema Corte do Arizona gerou críticas de diversos setores da sociedade americana.
O presidente Joe Biden afirmou que milhões de habitantes do Arizona em breve viverão sob uma proibição de aborto ainda mais extrema e perigosa.
“Esta decisão é resultado da agenda extrema de funcionários eleitos republicanos que estão comprometidos em retirar a liberdade das mulheres”, disse o presidente dos EUA em comunicado.
A procuradora-geral do Arizona, Kristin Mayes, chamou a decisão de “inconcebível e um ultraje à liberdade” e que “o tribunal do estado colocou em risco a saúde e a vida das mulheres do Arizona”. Kristin também enfatizou que, enquanto estiver no cargo, não processaria nenhum médico ou mulher que realizarem o aborto sob a lei, que chamou de “draconiana”.
“A decisão de hoje de reintroduzir uma lei de uma época em que o Arizona não era um estado, que a Guerra Civil estava em curso e que as mulheres nem sequer podiam votar ficará marcada na história como uma mancha em nosso estado”, disse a procuradora-geral, que é democrata.
O juiz do supremo John Lopez disse que a lei foi reativada por refletir a vontade do povo e que, até o momento, a legislatura do estado “nunca criou afirmativamente um direito ao aborto eletivo”.
“Nós deferimos, como somos constitucionalmente obrigados a fazer, ao julgamento da legislatura, que é responsável perante, e portanto reflete, a vontade mutável de nossos cidadãos”, escreveu Lopez.
Tema-chave das eleições
Com a decisão da Suprema Corte desta terça, o estado do Arizona fica em evidência na discussão sobre o aborto, um dos principais temas das eleições deste ano nos Estados Unidos, marcadas para 5 de novembro.
A governadora do Arizona, Katie Hobbs, também democrata, disse que a decisão “apenas serve para criar mais caos para mulheres e médicos em nosso estado”, apontando o dedo para os republicanos por um “ataque interminável aos nossos direitos básicos”.
Os democratas também criticaram a decisão da volta da lei de 1864 no Arizona. A reativação do texto foi possível por conta da revogação pela Suprema Corte dos EUA do caso ‘Roe contra Wade’, que garantia o direito ao aborto nacionalmente. A revogação aconteceu em 2022, durante o mandato de Donald Trump, que indicou três juízes à Suprema Corte.
Aborto no Brasil
No Brasil, o aborto é permitido em alguns casos:
- se a gravidez colocar em risco a vida da gestante.
- se a gravidez for resultado de estupro.
Além disso, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), também não é crime fazer aborto em caso de anencefalia fetal, ou seja, má formação do cérebro do feto – e tampouco há prazo máximo estabelecido para isso.