Primeira negra a integrar o Parlamento espanhol, Rita Bosaho afirmou que a prática — comum nos desfiles anuais de 5 de janeiro, véspera do Dia de Reis, retratando os três Reis Magos que levaram presentes a Jesus — mancha a memória de pessoas escravizadas e ‘desempodera’ crianças negras.
Nos desfiles, atores que interpretam os reis sobem em carros alegóricos e jogam doces para as crianças. Textos cristãos antigos descrevem um dos Reis, Baltazar, como um africano. Pinturas do Renascimento o retratam como um negro.
Na cidade de Alcoy, que tem uma longa tradição nos desfiles, dezenas de pessoas interpretando o papel de pajens acompanharam os reis no evento desta sexta-feira (5), com rostos pintados de preto e lábios exageradamente vermelhos.
Bosaho, que liderou o departamento de diversidade racial no Ministério da Igualdade de 2020 a 2023, afirma que o uso do “blackface” segue devido à falta de debate sobre o racismo que, segundo ela, está permeado na sociedade espanhola.
“Passa uma mensagem de racismo, de que nossa pele não importa”, afirmou a parlamentar.
Quem defende a prática afirma que ela não tem a intenção de ser racista e é apenas uma continuidade da tradição.
“Não nos consideramos xenófobos ou racistas, nem consideramos racista o fato de algumas pessoas se vestirem e se maquiarem para interpretar um papel e trazer alegria às crianças”, afirmou Eduard Creus, chefe da empresa privada que organiza o desfile na cidade de Igualada.
Localizada no nordeste, Igualada tem o desfile mais antigo da região da Catalunha e a maioria dos seus cerca de 800 participantes usam blackface.
Foto de 5 de janeiro de 2024 mostra participantes de desfile de Dia de Reis durante desfile de véspera de Dia de Reis em Alcoy, na Espanha; prática de ‘black face’ foi criticada — Foto: Eva Manez/Reuters
(Reportagem de David Latona, Eva Manez, Catherine Macdonald e Joan Faus.)