A Polícia Federal concluiu que o plano para assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022 não foi adiante devido à recusa do comando do Exército de aderir ao golpe de Estado.
A avaliação consta do relatório em que a PF indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 36 pessoas pela conspiração de 2022. Moraes retirou o sigilo do documento nesta terça-feira 26 e enviou o inquérito à Procuradoria-Geral da República. Cabe agora à PGR denunciar os indiciados, arquivar o caso ou solicitar novas diligências.
A conspiração para matar Moraes veio à tona na semana passada, quando a PF deflagrou a Operação Contragolpe e prendeu quatro militares do Exército ligados às forças especiais, os chamados “kids pretos”: o general Mário Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira. Outro preso é o policial federal Wladimir Matos Soares.
A polícia teve acesso a mensagens de um grupo de conversas criado pelos golpistas no aplicativo Signal e chamado “Copa 2022”, com o objetivo de monitorar Moraes. Os militares envolvidos receberam codinomes de países, como Alemanha, Austria, Japão e Gana.
“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório da PF.
Em busca de apoio ao golpe, segundo a Polícia Federal, Bolsonaro promoveu diversas reuniões com os comandantes militares e com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Chefiavam as Forças Freire Gomes (Exército), Baptista Júnior (Aeronáutica) e Almir Garnier (Marinha).
Na manhã de 7 de dezembro, por exemplo, após realizar pessoalmente ajustes na chamada minuta do golpe, Bolsonaro convocou ao Alvorada os chefes militares, a fim de “apresentar o documento e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano de abolição do Estado Democrático de Direito”, conforme o relato da PF.
A PF concluiu que Garnier e Paulo Sérgio se juntaram à intentona golpista, enquanto Freire Gomes e Baptista Júnior se manifestaram contra a ruptura institucional.
Em 15 de dezembro, Mário Fernandes enviou uma mensagem ao general Luiz Eduardo Ramos, então secretário-geral da Presidência, relatando que Freire Gomes iria ao Palácio Alvorada para supostamente comunicar sua anuência ao golpe.
“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, dizia a mensagem, segundo a transcrição da PF.
Freire Gomes de fato esteve no Alvorada, a exemplo de Ramos. Não houve, porém, adesão institucional do Exército à ruptura.