Sargento da Polícia Militar, a mãe do estudante que atirou contra colegas de sala prestou depoimento na tarde desta segunda-feira (30 ) na Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), em Goiânia. O menino de 14 anos usou a arma dela para cometer o ato. Segundo a defesa, a mulher explicou aos investigadores que mantinha a pistola .40 e a munição guardadas em locais diferentes.
“Não houve negligência, a arma ficava sempre em local seguro e não de fácil acesso”, disse a advogada.
O crime aconteceu no fim da manhã do dia 20 de outubro, em uma sala de aula do 8º ano do Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, em Goiânia. Os tiros mataram dois alunos e deixaram outros quatro feridos.
O depoimento durou cerca de duas. Nele, a mãe contou sobre a relação do filho com os amigos, familiares e colegas de escola. No entanto, o delegado responsável pelo caso, Luiz Gonzaga Júnior, se negou a dar detalhes da declaração da mulher e sobre a investigação.
A sargento estava acompanhada do marido, que também é policial militar, e da advogada. Após sair da sala do escrivão, a mãe não atendeu à imprensa. A advogada explicou que a cliente ainda está muito abalada.
“Ela disse que também não tinha conhecimento sobre bullying, assim como os professores. Que ele era um menino carinhoso e isso tudo foi um choque para a família”, afirmou Rosângela.
O pai do menino, que tambem é policial militar, já prestou depoimento. Na ocasião, ele também afirmou que não sabia que o filho era vítima de bullying – fato que teria motivado o ato.
A policial militar estava de licença especial desde o início do mês de outubro, antes da tragédia no colégio, e deve ficar afastada por um período de três meses. Após o ato do filho, ela teve de ser internada e recebeu alta na última segunda-feira (23).
João Pedro Calembo (à esquerda) e João Vitor Gomes foram mortos a tiros — Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Investigação
Segundo o delegado Luiz Gonzaga Júnior, responsável pelo caso, o autor dos tiros disse que sofria bullying de um colega e, inspirado em massacres como o de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro, decidiu cometer o crime. Ele pegou a pistola .40 da mãe e a levou para a unidade educacional dentro da mochila.
O adolescente foi ouvido pelo Juizado da Infância e Juventude na manhã desta sexta-feira (27). Ao lado dos pais, que também prestaram depoimento, ele disse que está arrependido pelo crime, segundo informou a advogada da família, Rosângela Magalhães.
De acordo com a defesa, o Ministério Público de Goiás (MP-GO) pediu a avaliação psicológica do estudante, que foi determinada pela Justiça.
A advogada crê que só ao final da investigação será possível entender o que ocorreu. “Acredito que com a perícia, com as oitivas das testemunhas, do juizado das próximas semanas, talvez nós tenhamos alguma explicação. Porque uma tragédia dessa envergadura não se explica. Imagino que sirva para que isso não se repita”.
Aluno usou pistola da mãe para atirar contra os colegas — Foto: Danila Bernares/TV Anhanguera
Corregedoria
A mãe do atirador também é investigada em um inquérito na Polícia Militar. Segundo o assessor de imprensa da corporação, tenente-coronel Marcelo Granja, ela pode ser ouvida em até 60 dias no procedimento aberto para apurar o uso da arma da PM no ataque.
Ainda de acordo com Granja, a Corregedoria já designou um oficial para o caso. Em vias normais, primeiramente são ouvidas testemunhas e, posteriormente, o militar investigado. O pedido de apuração foi feito pelo batalhão ao qual ela pertence.
“O inquérito tem um prazo de 40 dias para transcorrer, mas o encarregado pode pedir uma prorrogação de mais 20 dias caso sinta necessidade. Ela pode ser ouvida a qualquer momento nesse período. Porém, como ela está medicada e se recuperando de uma internação em casa, acho que deve demorar alguns dias”, disse Granja ao G1.
Após esse período, o encarregado emite um parecer e o repassa para o superior que solicitou o inquérito. Este, por sua vez, o encaminha para a Auditoria Militar, onde o documento é analisado pela promotoria e por um juiz, que decidirá se a sargento será ou não punida.
Hyago, Isadora, Marcela e Lara foram baleados por colega dentro da sala de aula — Foto: Montagem/G1
Baleados
Os tiros foram disparados por um aluno da classe, de 14 anos, no intervalo entre duas as aulas de ciências e gramática. Os alunos João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, morreram ainda no colégio.
Outros quatro estudantes foram baleados. Entre eles estão Hyago Marques, de 13 anos, e Lara Fleury, 14, receberam alta e já prestaram depoimento à Polícia Civil.
Marcela Macedo, de 14 anos, está internada no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) com quadro regular. Segundo boletim médico divulgado nesta segunda-feira (30), ela está consciente, e respira espontaneamente e não se queixou de dores aos médicos.
Já Isadora de Morais, também de 14 anos, está na Unidade de Terapia Intesiva (UTI) do Hugo. De acordo com o hospital, ela também tem quadro regular, está consciente e respira espontaneamente.
Os médicos constataram que Isadora ficou paraplégica após a vértebra ser atingida.
Volta à rotina
Após 10 dias da tragédia, o Colégio Goyases retomou parcialmente as aulas nesta segunda-feira (30). Nesta manhã, somente alunos da educação infantil e do 1º ao 5º ano do ensino fundamental retornam às atividades. Na terça-feira, os estudantes do 6º ao 9º ano também voltam, incluindo a turma do 8°, onde foram feitos os disparos.
Segundo a direção, a sala onde ocorreram os tiros será transformada em uma sala de artes. Os pais poderão ficar com os filhos dentro das classes. Já funcionários da escola receberam orientação psicológica, na última semana, para lidar com o ataque e dar o suporte necessário aos alunos.
Colégio Goyases retoma as aulas após 10 dias — Foto: Silvio Túlio/G1
Veja a sequência dos fatos do ataque:
- Colegas relatam que ouviram um barulho;
- Em seguida, os alunos viram o adolescente tirando a arma da mochila e atirando;
- Alunos correram para fora da sala de aula;
- O aluno descarregou um cartucho, carregou o segundo e deu um tiro, mas foi convencido pela coordenadora a parar de atirar;
- Estudante foi levado para a biblioteca até a chegada dos policiais.