Mohammad Mustafa, de 69 anos, é um economista formado nos Estados Unidos e é conselheiro econômico de Abbas de longa data, segundo a Reuters. Ele vai liderar a parte da Cisjordânia ocupada por Israel em meio a tratativas para que a ANP, reconhecida internacionalmente, administre a Faixa de Gaza após a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Ainda não se sabe se a nomeação de um novo gabinete liderado por um aliado próximo de Abbas seria suficiente para atender às demandas dos EUA por reformas, já que o presidente da ANP ainda continuaria no controle geral da organização. (Entenda mais sobre o caso abaixo)
“A mudança que os Estados Unidos da América e os países da região querem não é necessariamente a mudança que o cidadão palestino quer”, disse o analista político palestino Hani al-Masri à Reuters. “As pessoas querem uma mudança real na política, não uma mudança nos nomes. Elas querem eleições”, completou.
Segundo Hani al-Masri, Mustafa é “um homem respeitado e educado”, mas que terá dificuldade em atender às demandas públicas para melhorar as condições na Cisjordânia ocupada, onde as restrições israelenses impostas desde o início da guerra causaram uma crise econômica.
Quem é Mohammad Mustafa
Mohammad Mustafa nasceu na cidade de Tulkarem, na Cisjordânia, em 1954, e obteve um doutorado em administração de empresas e economia pela Universidade George Washington. Ele ocupou cargos de alto escalão no Banco Mundial e anteriormente atuou como vice-primeiro-ministro e ministro da economia da Autoridade Nacional Palestina.
Mustafa é uma das figuras que supervisiona a reconstrução da Faixa de Gaza durante o controle do grupo terrorista Hamas sobre a região. Desde 2009 ele é presidente do Fundo de Investimentos para a Palestina (PIF), que tem orçamento de U$ 1 milhão (cerca de R$ 4,98 milhões) para projetos em territórios palestinos.
O economista também já ocupou altos cargos no Banco Mundial e em Washington, nos Estados Unidos, durante 15 anos.
Negociações para liderança da Faixa de Gaza
Israel prometeu destruir o Hamas e diz que, por razões de segurança, não aceitará o domínio da Autoridade Nacional Palestina (ANP) sobre a Faixa de Gaza após a guerra, que já matou cerca de 1.200 israelenses e quase 30 mil palestinianos.
Há cerca de 17 anos, a liderança palestina está dividida entre a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e o grupo terrorista Hamas, que Gaza atualmente.
Os Estados Unidos pediram que a ANP seja reformada para que possa expandir sua autoridade para Gaza no pós-guerra, antes da criação eventual de um estado palestino em ambos os territórios. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descartou qualquer papel para a ANP em Gaza, e seu governo é contrário à soberania palestina.
A ANP deveria funcionar como um órgão de governo temporário de todos os territórios palestinos. Formado pelo líder, primeiro-ministro e um conselho legislativo. E o maior partido político palestino, Fatah, e o grupo terrorista Hamas, poderiam disputar cadeiras.
Presidente da Autoridade Palestina denuncia guerra contra seu povo
Porém, um conflito entre os dois partidos aconteceu após a última eleição para o Conselho Nacional Palestino, em 2006. À época, o grupo terrorista ganhou as cadeiras do conselho. Porém, a vitória não foi aceita por Israel e pela União Europeia, que financiavam em parte a ANP.
Os países impuseram sanções, que acirrou a rivalidade entre os partidos locais. Tanto que o Fatah dissolveu o conselho, ficando com o controle da ANP na Cisjordânia — onde tinha sua maior base de apoio — e o Hamas formou um governo próprio e tomou controle da Faixa de Gaza.
Esforços para um novo governo
O Fatah — partido de Shtayyeh — e o Hamas têm feito esforços para chegar a um acordo sobre um governo de unidade para controlar a Faixa de Gaza.
“A renúncia de Shtayyeh só faz sentido se ocorrer um acordo de consenso nacional sobre os preparativos para a próxima fase [de Gaza]”, disse Sami Abu Zuhri, o integrante da alta cúpula do Hamas, à Reuters.
Renúncia de primeiro-ministro
O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, renunciou ao cargo em fevereiro. Ele é integrante da Autoridade Nacional Palestina (ANP), partido formado há 30 anos que exerce uma governança limitada sobre partes da Cisjordânia ocupada.
“Apresentei a demissão ao líder [da ANP, Mahmoud Abbas] em 20 de fevereiro e a submeto hoje [26 de fevereiro] por escrito”, afirmou Shtayyeh, antes de explicar que a decisão acontece “à luz dos fatos relacionados com a agressão contra a Faixa de Gaza e a escalada na Cisjordânia e Jerusalém”.
O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, ao lado de um retrato do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, durante reunião de gabinete anunciou renúncia — Foto: Zain Jaafar/AFP
Desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023, o líder da ANP tem sido criticado por sua “impotência” diante dos bombardeios israelenses na Faixa e do aumento da violência na Cisjordânia ocupada.
“[O novo momento] exigirá acordos governamentais e políticos que levem em conta a realidade emergente na Faixa de Gaza, bem como a necessidade urgente de um consenso palestino”, afirmou Shtayyeh. Além disso, “é necessária a extensão da Autoridade Nacional Palestina sobre todo o território”.