Pouco depois, do lado de fora do Congresso, organizações sociais e grupos políticos de esquerda, contrários ao governo, mantiveram violentos confrontos com as forças de segurança.
As forças de segurança (Polícia do Exército, Polícia Federal e membros da Guarda Costeira) responderam com gás pimenta e balas de borracha. Nos confrontos, três agentes ficaram feridos, assim como dezenas de manifestantes e jornalistas.
Os manifestantes tentaram bloquear as ruas ao redor do Parlamento, mas o novo protocolo de segurança, em vigor desde o final de dezembro, proíbe a interrupção do trânsito e só permite os protestos em praças, esplanadas e calçadas.
Polícia e manifestantes entram em confronto, em meio ao debate sobre o projeto de reforma econômica proposto por Milei. — Foto: Agustin Marcarian/Reuters
Apreensão dos brasileiros
Na praça do Congresso, logo após a aprovação e antes do enfrentamento, o brasileiro Paulo Pereira, um referente da comunidade na Argentina, descreveu à RFI a “apreensão e o medo” que existe com as novas leis, principalmente entre os cerca de 11 mil universitários brasileiros no país.
“A gente tem acompanhado com medo e com apreensão o que tem acontecido na Argentina e como isso pode refletir na vida dos brasileiros. A gente sabe que esse projeto de lei propõe não só que as universidades deixem de ser públicas, mas também contempla a possibilidade de poderem cobrar mensalidades de estudantes estrangeiros. Isso afeta diretamente a comunidade brasileira”, aponta Paulo Pereira.
Atualmente, os estrangeiros na Argentina usufruem do ensino gratuito nas universidades públicas. Pelas novas medidas do presidente Milei, as instituições de ensino superior públicas podem começar a cobrar mensalidades dos estrangeiros que não tiverem residência. Nesse universo, os brasileiros são destaque, principalmente no curso de Medicina.
“Não sabemos ainda como será a aplicação dessa cobrança. Não sabemos como vai funcionar, mas sabemos que afetaria diretamente a comunidade brasileira”, afirma Paulo.
Por outro lado, as medidas do novo governo na economia, principalmente através da liberação irrestrita de preços, têm diminuído velozmente o poder aquisitivo dos estudantes brasileiros, na sua grande maioria dependentes dos pais.
“Temos sentido um aumento muito forte da inflação. A qualidade de vida do brasileiro aqui, que costumava se aproveitar de uma relação custo-benefício muito boa no câmbio, pode ter acabado ou pode mudar bastante. A partir da aprovação dessa lei, a realidade da comunidade brasileira será diferente”, prevê Paulo Pereira.
Pacote diluído
Dos 664 artigos iniciais no pacote de leis, apenas a metade continua de pé. São agora 363 artigos que ainda podem ser modificados porque, a partir de terça-feira (6), começa a discussão de cada artigo em particular.
Os pontos mais resistidos pela oposição são as privatizações de estatais, a possibilidade de o governo emitir dívida externa sem a aprovação do Congresso e a concessão de “superpoderes” do Legislativo ao Executivo.
Essa resistência a Javier Milei fez com que a sessão em torno do mega pacote entrasse para a história como a mais prolongada do Congresso argentino. Até agora, foram 31 horas acumuladas de debate durante três dias.
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Limitações
Para governar sem precisar do Congresso, o governo queria liberdade de ação em 11 áreas. Aceitou diminuir a seis, mas a oposição ainda resiste em algumas matérias como tarifas públicas e segurança. Além disso, a pretensão do governo de um prazo de dois anos, renováveis por outros dois, para os “superpoderes” precisou ser cortado pela metade: um ano, renovável por mais um.
O presidente Javier Milei queria privatizar 41 estatais, com foco na petrolífera YPF, na companhia aérea Aerolíneas Argentinas e no Correio Argentino. Da lista, a petrolífera já foi retirada e outras três estatais estratégicas só poderão ser privatizadas parcialmente. O número de privatizáveis é agora de 27.
Durante o fim de semana, as negociações serão frenéticas. Dessas negociações, depende que o pacote de Milei preserve a sua essência ou termine ainda mais desidratado.