Van Agt, um político influente de longa data, sofreu um derrame em 2019, do qual nunca conseguiu se recuperar totalmente, e a saúde de sua esposa, Eugenie, também havia piorado.
A eutanásia e o suicídio assistido são permitidos desde 2002 na Holanda. A eutanásia dupla é uma tendência recente que vem crescendo no país, onde alguns casais já conseguiram realizar o desejo de morrer juntos, geralmente por meio de uma dose letal de um remédio.
Van Agt foi nomeado embaixador da União Europeia no Japão em 1987 — Foto: GETTY IMAGES
Sete décadas juntos
Andreas (Dries) van Agt e Eugenie Krekelberg estavam juntos havia mais de 70 anos, desde que se conheceram como estudantes de arte em Nijmegen, no leste da Holanda. Eles se casaram pouco tempo depois e se tornaram inseparáveis desde então.
Nascido em 1931, Dries van Agt foi criado num ambiente católico e, depois de se formar em Direito e trabalhar como advogado nos Ministérios da Agricultura e Pesca e da Justiça, entrou para a carreira política.
Ele foi ministro da Justiça (1971-1977) e das Relações Exteriores (1982). Exerceu o cargo de primeiro-ministro em três gabinetes do governo holandês entre 1977 e 1982. Na sequência, foi nomeado embaixador da União Europeia no Japão e nos Estados Unidos.
Eugenie acompanhou o marido e o aconselhou ao longo de sua extensa carreira política — sempre aparecia ao seu lado em eventos locais e internacionais em que ambos participavam como figuras públicas.
Nas fotos, eles aparecem cumprimentando o povo, votando juntos nas eleições e demonstrando abertamente seu carinho um pelo outro.
Eugenie também esteve ao lado do marido quando ele fundou o The Rights Forum, em 2009, uma organização dedicada à busca de uma solução pacífica entre palestinos e israelenses.
Van Agt escreveu inúmeros artigos e dois livros sobre o que considerava a “injustiça” em que vive o povo palestino.
Em 2019, o ex-primeiro-ministro sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), do qual se recuperou parcialmente.
Embora tenha continuado tratando da questão palestina, escreveu o The Rights Forum, ele se sentiu frustrado porque “sua criatividade, concentração e capacidade de fazer discursos haviam sido afetadas”.
A saúde de sua companheira, Eugenie, também havia piorado e, como tinham certeza de que não queriam viver um sem o outro, ambos tomaram a decisão de se submeterem juntos à eutanásia, aos 93 anos, no dia 5 de fevereiro.
O atual primeiro-ministro interino da Holanda, Mark Rutte, prestou uma comovente homenagem a Van Agt, a quem chamou de “tataravô político”. A família real holandesa destacou a sua “personalidade marcante e estilo rebuscado”.
O casal, que deixa três filhos, foi sepultado em Nijmegen, cidade onde os dois se conheceram.
Van Agt é descrito como alguém que tinha uma personalidade marcante — Foto: GETTY IMAGES
Eutanásia na Holanda
O site oficial do Comitê de Análise da Eutanásia explica que quando um médico atende à solicitação de um paciente para cessar sua vida, isso é chamado de eutanásia.
Se o médico ajudar o paciente a cessar sua própria vida, o procedimento é conhecido como suicídio assistido.
Ambas as práticas são permitidas na Holanda desde 2002, mas são estritamente controladas por regulamentações previstas em lei.
Os pedidos de eutanásia surgem frequentemente de pacientes que vivenciam um sofrimento insuportável e sem perspectivas de melhora.
A solicitação deve ser feita com toda seriedade e convicção. Os pacientes não têm o direito absoluto à eutanásia, nem os médicos têm o dever absoluto de praticá-la.
A eutanásia dupla é uma modalidade recente, mas está se tornando mais comum.
Foram realizadas quase 9 mil eutanásias individuais na Holanda em 2022, e 29 casais se submeteram ao procedimento no mesmo ano.