“O problema não é a raça, é o preparo”, especialista explica ataques de pitbulls em Goiás

Inglid Martins
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“O problema não é a raça, é o preparo”, especialista explica ataques de pitbulls em Goiás

Gritar ou bater não ajuda e pode aumentar o ataque já que raça suporta dores extremas

Foto ilustrativa de um pit bull de cor castanho

Segundo o especialista, cruzamentos indiscriminados são um problema constante (foto: ilustrativa Freepik)

Entre 2024 e os primeiros meses de 2025, ao menos nove ataques atribuídos a cães da raça pit bulls foram registrados em Goiás. Os casos aconteceram em diferentes municípios do estado, como Rio Verde, Goianésia, Anápolis, São Simão, Catalão, Mineiros e Estrela do Norte. As ocorrências envolveram desde crianças até idosos e animais de pequeno porte, e, em algumas situações, terminaram com ferimentos graves e até mortes.

Esses episódios têm intensificado as discussões sobre o comportamento do animal, segurança e responsabilidade dos tutores. A discussão vai além do medo, buscando compreender se é possível prever o comportamento de um cão e se a agressividade está relacionada à raça ou à criação.

Para aprofundar essa questão, o Mais Goiás conversou com empresário Hugo Ribeiro, treinador de cães de polícia e especialista no manejo de raças de grande porte. Com mais de 30 anos de experiência, Hugo alerta que, antes de qualquer julgamento, é preciso entender o cachorro — e não apenas o nome da raça que ele carrega. “Pode ser pit bull, pode ser pastor alemão, golden ou até um shih-tzu. A questão é identificar desde cedo se o animal tem traços de agressividade ou dominância exagerada”, afirma.

O instinto dominador é genético em animais de grande força

Segundo ele, muitos dos ataques não são fruto de maus-tratos ou criação voltada à violência. Na maioria dos casos que atende, o comportamento agressivo é genético. Por isso, adestramento, acompanhamento profissional e atenção ao histórico dos pais do filhote são detalhes importantes a ser investigado antes levar o cão para casa. “Não é só pegar e jogar no quintal. Tem que avaliar o temperamento, saber se vai ter tempo e estrutura para lidar com um cachorro de energia e força tão altas”, explica.​

Hugo rebate a ideia comum de que o cachorro se torna agressivo por causa da forma como foi criado. “Em 99% dos casos que atendo, não houve estímulo à agressividade. É genético. O cachorro já nasce com isso, e o tutor, muitas vezes por falta de conhecimento, não percebe enquanto ele ainda é filhote. Só nota quando o animal já está adulto.”

O adestramento pode ajudar — e muito — mas ele também tem limites. “Um cão com temperamento muito forte pode até obedecer ao treinador, mas, na mão de alguém sem experiência, volta a apresentar riscos. Em alguns casos, mesmo com adestramento, o ideal é que esse cão fique com alguém que tenha mais preparo.”

Cruzamentos sem controle podem intensificar traços agressivos — e como agir em caso de ataque

Hugo também faz um alerta sobre os cruzamentos indiscriminados, que são um problema constante. “Se você cruza dois cães agressivos, a tendência é que essa característica seja passada para os filhotes. Não é regra, mas a chance é grande.”

Em casos de ataques, o treinador orienta que gritar ou tentar separar com chutes ou pancadas não costuma funcionar, pois a raça suporta dores extremas e agredi-lo pode aumentar a agressividade. “Pit bulls têm limiar de dor muito alto, algo selecionado durante décadas. Por isso, o ideal é levantar as patas traseiras do animal, como se fosse um carrinho de mão. Isso tira o equilíbrio dele e costuma interromper o ataque.”

Ribeiro alerta que é necessário conhecer a raça e a linhagem, observar o cão desde filhote, contar com orientação profissional e ter responsabilidade são os principais caminhos para evitar tragédias. “Não é sobre a raça, é sobre o indivíduo”

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