Mais cedo neste sábado (3), já haviam sido realizados ataques “de autodefesa” contra mísseis de cruzeiro houthis, conforme anunciado pelos EUA.
Essa é a terceira rodada de ataques americanos e britânicos contra o grupo – bombardeios conjuntos aconteceram em 11 e 22 de janeiro. Os EUA lançaram diversos ataques separados contra os houthis desde então.
Na sexta-feira (2/2), os EUA também lançaram bombardeios contra 85 alvos na Síria e no Iraque, em resposta a um ataque com drones a uma base na Jordânia, que matou três soldados dos Estados Unidos.
Autoridades americanas culparam um grupo de milícias apoiado pelo Irã, a Resistência Islâmica no Iraque, pelo ataque na Jordânia.
Acredita-se que a organização – um grupo “guarda-chuva” de múltiplas milícias – tenha sido armada, financiada e treinada pelo Irã. O Irã nega as acusações.
Mas o que os houthis no Iêmen e a Resistência Islâmica no Iraque têm em comum?
Ambos são parte do chamado “Eixo de Resistência” iraniana, que inclui também o Hezbollah no Líbano, o regime Assad na Síria e diversas milícias no Iraque.
O Irã tem apoiado ainda o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina em Gaza, grupos considerados terroristas pelos EUA e outros países.
Entenda a origem desta aliança de grupos armados, que recebem armamentos e financiamento do Irã e estão sob a influência do presidente iraniano, Ebrahim Raisi – embora operem frequentemente fora da sua cadeia de comando.
O que é o ‘Eixo de Resistência’ iraniano
O “Eixo de Resistência”, com atuação em países vizinhos ao Irã, como Iraque, Síria, Líbano, Iêmen e os territórios palestinos, se opõe ao poder da coalizão entre Israel e EUA na região.
“O Irã se aproveita do atual momento de conflito para fazer o que tem feito há anos: causar caos, e atacar os EUA e seus parceiros de diferentes formas, principalmente através de suas ‘milícias por procuração'”, disse Allison McManus, diretora no Centro para o Progresso Americano, à BBC News.
Os EUA afirmam que já houve mais de 160 ataques contras suas posições na Síria e no Iraque desde 7 de outubro de 2023.
Mas para entender a origem dessa rede de aliados ao Irã é preciso voltar a 1979, quando um levante contra a monarquia levou o Irã a se tornar uma república islâmica. Desde então, o país tem ampliado sua influência regional.
O aiatolá Ruhollah Khomeini retornou ao Irã em 1º de fevereiro de 1979, após 15 anos de exílio — Foto: AFP via BBC
“No Iraque, por exemplo, há toda uma gama de milícias xiitas formadas de diferentes maneiras e que têm conexões diversas com o Irã”, disse Laura James, da Oxford Analytica, à BBC.
“De fato, trata-se de um movimento tipo ‘guarda-chuva’, que inclui também milícias não-xiitas, então é muito complexo navegar os tipos de ligações dentro dessa parte do ‘Eixo de Resistência’.”
Segundo especialistas, o apoio do Irã a esses grupos acontece de formas diversas, sendo a primeira delas, o apoio financeiro.
Em 2020, os EUA estimaram que o Irã destina ao Hezbollah US$ 700 milhões (R$ 3,5 bilhões) por ano. Outros US$ 100 milhões ao ano seriam destinados a grupos palestinos, incluindo o Hamas.
Os houthis do Iêmen também teriam recebido centenas de milhões de dólares dos iranianos. O Irã não confirma essa destinação de recursos.
Além de dinheiro, o país também apoia sua rede de aliados com armamentos.
Recentemente, dois militares americanos morreram durante uma operação para interceptar um barco no Mar Vermelho.
Depois do incidente, os EUA divulgaram imagens da embarcação, que estaria transportando armas iranianas para os houthis.
A embarcação que estaria transportando armas iranianas para os houthis — Foto: Departamento de Defesa dos EUA/Divulgação via BBC
Estima-se ainda que o Hezbollah tenha um arsenal de 130 mil foguetes e mísseis, muitos dos quais de fabricação iraniana.
O fato de o Irã apoiar os grupos com recursos e armas levanta dúvidas se o país também estaria coordenando as ações de seus aliados.
Após os ataques de 7 de outubro em Israel, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou não haver evidências de envolvimento direto do Irã naquele ataque em particular.
Assim, os aliados iranianos parecem agir com um significativo grau de independência, mas é preciso entender isso dentro de um contexto maior.
“O Irã não necessariamente exerce controle operacional no dia-a-dia de cada um dos seus grupos de influência. Mas, dito isso, quando você provê direcionamento estratégico, recursos e treinamento significativos, não se pode evitar culpabilidade”, diz Gordon Gray, da George Washington University.
Qual é o objetivo do Irã?
Aqui, novamente, é preciso olhar para a história do país, retornando à Guerra Irã-Iraque nos anos 1980, que teve início com uma invasão iraquiana.
“O Irã não necessariamente percebe a si mesmo como um ator agressivo, mas sim, como profundamente vulnerável”, afirma Laura James, da Oxford Analytica.
“Particularmente a Guerra Irã-Iraque, quando o país ficou muito vulnerável aos mísseis iraquianos e muitas pessoas morreram, é chave para entender a concepção iraniana de seu lugar na região. Então toda sua política é baseada no objetivo de nunca mais permitir ao país se ver cercado e isolado.”
Basij, força paramilitar iraniana fundada pelo aiatolá Khomeini, em 1979, um ano antes da Guerra Irã-Iraque, para defender a Revolução Islâmica — Foto: Getty Images via BBC
Para atingir esse objetivo, o “Eixo de Resistência” é crucial.
“O Irã não busca uma escalada massiva ou uma guerra aberta com os Estados Unidos ou Israel”, diz Rend Mansour, do Instituto Iraquiano para Estudos Estratégicos.
“O interesse iraniano é manter o equilíbrio através da violência dos grupos que mantém na região.”
Os interesses e objetivos iranianos são um assunto amplamente controverso, mas o “Eixo de Resistência” são cruciais para o país, em meio ao crescente conflito no Oriente Médio.
Com informações de Ros Atkins, editor de análises da BBC News