Até agora, a Ucrânia podia usar esse tipo de armamento apenas para se defender em seu território. O disparo de mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA contra a Rússia era um tabu, porque o presidente russo, Vladimir Putin, considera que isso muda o caráter do conflito e havia prometido represálias. Entre as ameaças que fez ao Ocidente, Putin disse que realizaria testes nucleares.
Biden mudou de posição a menos de dois meses de deixar a Casa Branca. Em janeiro, o republicano Donald Trump assume a presidência americana, e não se sabe se ele manterá o apoio à Ucrânia no conflito.
▶️ O que são os mísseis ATACMS? A sigla ATACMS significa Army Tactical Missile Systems (em português, Sistemas de Mísseis Táticos do Exército dos EUA). Os mísseis de longo alcance permitem ataques com precisão a mais de 300 km de distância dos alvos.
São armas que o exército ucraniano já havia recebido de aliados, mas que não haviam sido empregados em solo russo. Essa é a vedação que cai, depois da determinação de Biden.
Além dos ATACMS, os ucranianos também receberam mísseis de longo alcance de sistemas como o Storm Shadow, liderado pelo Reino Unido, o SCALP, fabricado na França.
▶️ Para que servem? A Ucrânia tem pressionado para obter permissão de usar os armamentos para atingir alvos estratégicos dentro da Rússia, fazendo o exército de Putin recuar para longe da fronteira.
O governo ucraniano afirma que as principais bases aéreas, depósitos de suprimentos, posições de comando e outros centros logísticos poderiam se tornar alvos fáceis, dificultando o reabastecimento de tropas e armamento.
Rússia lança maior ataque aéreo contra Ucrânia desde agosto
▶️ Por que isso é importante? Os russos afirmam que uma linha vermelha seria ultrapassada se mísseis ocidentais fossem usados em seu território.
Os Estados Unidos e outros membros da OTAN – enquanto apoiam a Ucrânia com armas, treinamento e ajuda financeira – estão tentando evitar um confronto direto com a Rússia.
Por isso, a decisão de retirar a proibição do uso dos mísseis americanos de longo alcance é uma grande mudança na postura de Biden, que se manteve cauteloso sobre esse assunto durante seu governo. A permissão ocorre também após a vitória de Trump nas eleições dos EUA.
A agência de notícias Tass noticiou que parlamentares russos consideram a permissão para que a Ucrânia ataque dentro da Rússia com mísseis dos EUA um passo sem precedentes, que pode levar a uma terceira guerra mundial. A nota afirma, ainda, que a resposta será imediata.
Escalada do conflito
Zelensky e Biden após assinarem acordo nesta quinta-feira (13). — Foto: Alessandro Garofalo/Reuters
A retirada da restrição ocorre em um momento de escalada nas tensões entre países da Ásia, da Europa e dos EUA. Uma nova fase da ofensiva russa em território ucraniano a partir de maio fez Otan e EUA, aliados da Ucrânia, considerarem a autorização para utilização de mísseis de longo alcance fornecidos aos ucranianos.
Com essa nova fase da guerra, os EUA começaram a levantar algumas restrições, deixando apenas a dos mísseis de longo alcance. Já países da Europa reforçaram os pacotes de ajuda financeira e o presidente da França, Emmanual Macron, chegou até a considerar enviar tropas francesas para a Ucrânia, e foi ameaçado por Putin.
Segundo as autoridades americanas ouvidas pelo “The New York Times”, o temor de que Putin suba ainda mais o tom por conta da autorização do uso de mísseis americanos pela Ucrânia ainda existe, mas foi superado pela urgência do atual cenário da guerra.
Tropas da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia
Em meados de outubro, a agência de inteligência da Coreia do Sul disse ter descoberto o envio de 1.500 tropas norte-coreanas à Rússia. O número foi atualizado e a estimativa dos governos sul-coreano e ucraniano é que entre 10 e 12 mil soldados norte-coreanos sejam enviados até dezembro.
Segundo o “The New York Times”, esse número pode chegar até 50 mil soldados da Coreia do Norte fornecidos às forças russas, e eles poderiam ser utilizados em uma nova fase de ofensiva contra a Ucrânia.
Segundo a Coreia do Sul, cerca de 12 mil soldados norte-coreanos já foram enviados à Rússia em segredo e estão recebendo treinamento em bases militares russas. A inteligência ucraniana disse ainda que cerca de 12 mil soldados da Coreia do Norte já estão na Rússia, e o treinamento das tropas está ocorrendo em cinco bases militares.
O envolvimento da Coreia do Norte na guerra entre Rússia e Ucrânia aumentou o nível de alerta e as tensões com a Coreia do Sul e países do Ocidente membros da Otan. Os EUA, a Holanda e a própria Otan afirmaram terem provas do envio das tropas à Rússia, e consideram uma escalada “muito séria” no conflito. Autoridades de Seul afirmaram que o país avalia fornecer armas à Ucrânia como resposta.
O presidente russo Vladimir Putin disse nesta sexta que “é da nossa conta” se o país utiliza tropas norte-coreanas e pode fazer o que quiser para garantir a segurança da Rússia.
De acordo com o presidente, o Exército russo está avançando por todas as frentes de batalha no território ucraniano e encurralou um grande número de tropas na região de Kursk. Em meio à polêmica, parlamentares russos ratificaram um pacto com a Coreia do Norte que prevê assistência militar mútua.