Além de brilhar no esporte e nas telas de cinema, OJ Simpson também ficou conhecido por dois julgamentos na Justiça e uma tentativa de fuga que se desenrolou em uma perseguição policial que entrou para a história.
A primeira semana do caso OJ Simpson, em meados de junho de 1994, avançou rapidamente, e os repórteres corriam com as notícias. A única coisa lenta que aconteceu na história foi a perseguição.
OJ Simpson, o grande jogador do futebol foi acusado de matar a ex-mulher e o amigo dela, lá estava, ao vivo na televisão, na traseira de um Ford Bronco branco de um amigo, com uma arma apontada para a cabeça.
A rodovia parecia um desfile – a polícia, a mídia e os fãs seguiam o veículo. Havia multidões nos viadutos, cartazes, aplausos e socos no ar enquanto a perseguição se desenrolava.
Na redação da Associated Press, editores e redatores estavam ligados em pequenos televisores. E foi também ali que muitos permaneceriam durante os 17 meses seguintes – colados a uma televisão enquanto o chamado “Julgamento do Século”, no qual Simpson foi inocentado, se desenrolava.
OJ Simpson foi capturado na garagem de sua casa depois de fugir das acusações de assassinar sua ex-mulher e seu amigo e liderar a polícia ao longo de 96 quilômetros de rodovias e ruas da Califórnia.
“Não posso expressar o medo que tive de que essa fuga não terminasse da maneira que terminou”, disse o advogado de Simpson, Robert Shapiro, que se preocupava com a possibilidade de o ex-grande jogador do futebol se matar.
Quando a notícia da prisão foi divulgada, uma comemoração surgiu da multidão de 300 espectadores que aguardavam na casa do ex-jogador.
A prisão, que ocorreu pouco antes das 21h daquele dia, culminou em um drama incrível que se desenrolou ao vivo na TV nacional, no qual a polícia primeiro anunciou acusações contra OJ Simpson depois disse que ele havia desaparecido e finalmente o seguiu pelas rodovias por mais de uma hora.
Depois que o Ford branco finalmente parou na propriedade de Simpson, um homem que se acredita ser seu amigo e companheiro de equipe de longa data, Al Cowlings, saiu do carro. O advogado de Simpson chegou à mansão quase uma hora depois, e a prisão ocorreu minutos depois.
Antes de fugir, prestes a ser preso, o ex-jogador chegou a deixar uma carta manuscrita proclamando a sua inocência, despedindo-se dos amigos e fazendo “um último desejo” de “deixar os meus filhos em paz”.
Shapiro disse anteriormente que temia que Simpson fosse suicida e implorou para que ele desistisse. Na mesma entrevista coletiva, um amigo leu a carta de Simpson.
“Tive uma vida ótima, ótimos amigos”, dizia a carta. “Por favor, pense no verdadeiro OJ e não nesta pessoa perdida.” Na carta, Simpson escreveu ainda que tentou fazer “a maioria das coisas certas” na vida e perguntou: “Por que acabo assim?”
“Em primeiro lugar, todos entendam, não tive nada a ver com o assassinato de Nicole”, começa a carta de Simpson. “Se tivemos um problema, é porque eu a amava muito.”
“Não quero insistir em criticar a imprensa, mas não posso acreditar no que está sendo dito. A maior parte é totalmente inventada. Eu sei que você tem um trabalho a fazer, mas como último desejo, por favor, por favor, por favor, deixe meus filhos em paz”, escreveu ele.
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A fuga
Quando foi apontado como suspeito pelo assassinato da ex-mulher e de seu amigo, Simpson havia feito um acordo, comunicado por seu advogado, de que se entregaria à polícia. No dia em que a polícia anunciou o pedido de prisão preventiva do ex-jogador, no entanto, o jogador desfez a promessa e fugiu.
Ao saber da fuga, a polícia de Los Angeles montou imediatamente uma operação de busca e anunciou que ele poderia estar armado.
“Vimos, talvez, a queda de um herói americano”, disse, na ocasião, o promotor público Gil Garcetti.
Shapiro disse que estava com Simpson, Cowlings e dois médicos em uma casa em San Fernando Valley na manhã de sexta-feira, quando a polícia ligou para dizer que iria prendê-lo. O advogado afirmou que Simpson e Cowlings, que cresceu com o ex-atleta em um conjunto habitacional de São Francisco e foi seu companheiro de equipe no ensino médio, na Universidade do Sul da Califórnia e no Buffalo Bills, desapareceram antes da chegada da polícia.
“O Departamento de Polícia de Los Angeles está procurando ativamente pelo Sr. Simpson”, disse a polícia, na ocasião. “O Departamento de Polícia de Los Angeles também está muito descontente com a sua não entrega.”
A investigação sobre o assassinato havia sido ancorada por um conjunto questionável de provas, desde relatos nos meios de comunicação sobre uma máscara de esqui manchada de sangue até uma luva ensanguentada.
A polícia nunca esclareceu porque deixou o ex-jogador, que chegou a ser algemado e interrogado pela polícia dias antes, escapar. Simpson havia sido visto em sua casa no início da semana e chegou a comparecer ao funeral de sua ex-mulher no dia anterior à fuga.
As mortes
Fãs e colegas da lenda do esporte que insistiram em sua inocência se viram forçados pelo mandado de prisão daquela sexta-feira a enfrentar uma possibilidade ameaçadora — a de que Simpson poderia ter matado a mãe de seus dois filhos, então com 9 e 6 anos.
“Não há nada a dizer, exceto que a lei deve seguir seu curso”, disse Howard Cosell, que trabalhou com Simpson no programa “Monday Night Football”, da ABC.
Os corpos da ex-mulher do astro do futebol, e de Goldman, um aspirante a modelo de 25 anos e garçom de um restaurante moderno, foram encontrados do lado de fora do luxuoso condomínio onde ela morava.
Mortos por facadas, os corpos foram descobertos em uma poça de sangue por um pedestre.
O casal se divorciou em 1992, após um casamento de sete anos. Ainda casada, a ex-mulher do então ídolo do esporte e do cinema chegou a ligar para a polícia em 1989, dizendo que temia que ele a matasse. Ela havia levado socos, tapas e chutes de Simpson, que não contestou o caso, disseram as autoridades.
Alguns relatórios sugeriram que os dois estavam tentando se reconciliar no momento dos assassinatos. Eles haviam sido vistos juntos recentemente, mas um amigo da família disse que essas tentativas falharam e que Simpson se tornou vingativo.
“Ele havia dito às amigas dela e a ela mesma que se a pegasse com alguém, a mataria”, disse um amigo à Associated Press, falando sob condição de anonimato.
Por meio de seus advogados, Simpson alegou inocência e argumentou que estava em casa no momento dos assassinatos, esperando uma limusine que o levasse ao aeroporto para um voo com destino a Chicago.
Ele compareceu ao funeral de sua ex-esposa um dia antes da fuga e contratou especialistas forenses para ajudar em sua defesa.
Simpson voou para Chicago na noite dos assassinatos, mas foi intimado pela polícia a voltar na manhã seguinte.
Ao apresentar as acusações, as autoridades pintaram um quadro sombrio em forte contraste com os movimentos graciosos de Simpson no campo de futebol. Ele foi acusado de usar uma faca para matar as vítimas. A faca não foi encontrada.
Orenthal James Simpson era conhecido no esporte como o ágil e poderoso running back do Buffalo Bills, para quem estabeleceu um recorde de corrida na NFL — a liga do futebol americano — em uma única temporada em 1973.
Ele também foi amplamente visto como comentarista esportivo de televisão e em anúncios de aluguel de carros. E produziu vários filmes para televisão e participou de produções como as comédias “Roots” e “The Naked Gun”.