Enquanto entidades e organizações econômicas celebram a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), anunciado nesta sexta-feira 6, instituições da área ambiental adotam postura cautelosa e fazem alertas para o Brasil.
Anunciado após 25 anos de negociações, o acordo busca fortalecimento de relação entre os países dos dois blocos. Além de determinar regras para o livre comércio, há o objetivo de promover cooperação política e ambiental entre europeus e sul-americanos.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) afirmou, logo após a assinatura da parceria, que o acerto com a UE pode fazer com que as exportações brasileiras recuperem terreno no mercado europeu. Segundo a entidade, a estimativa é de um incremento de 7 bilhões de dólares em exportações do Brasil para o bloco europeu. Atualmente, são 109 bilhões por ano.
“O acordo entre o Mercosul e a União Europeia envolve 25% da economia global e 780 milhões de pessoas. É um acordo estratégico, para o qual o presidente Lula contribuiu decisivamente, desde o lançamento das negociações em seu primeiro governo até sua diplomacia presidencial ativa nesse mandato, tendo visitado líderes do Mercosul e da União Europeia. Graças a esse esforço, o Brasil poderá aproveitar as mais de 1.800 oportunidades de curto prazo para o bloco que a ApexBrasil mapeou, com destaque para uma ampla gama de produtos, como café, milho, suco de laranja, mel natural, aviões, calçados, móveis de madeira, entre muitos outros”, disse o presidente da Agência, Jorge Viana.
Na mesma linha, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirma que o acordo com a União Europeia terá papel estratégico para diversificar as exportações brasileiras para os países do bloco europeu, criando oportunidades para fortalecer a indústria nacional. A entidade afirma que os termos do acerto têm “equilíbrio e sustentabilidade”.
A CNI avalia, ainda, que o tratado permitirá incentivos à indústria brasileira, que poderá vender aos europeus produtos de alto valor agregado. Isso, segundo a entidade, pode se refletir na geração de novos empregos.
“Além de diversificar nossas exportações e ampliar a base de parceiros comerciais, elevando o acesso preferencial brasileiro ao mercado mundial de 8% para 37%, o acordo trará uma inserção internacional alinhada com a agenda de crescimento inclusivo e sustentável, o que é essencial para garantir ganhos econômicos e sociais de longo prazo, e reforçar a competitividade global do Brasil”, resumiu presidente da CNI, Ricardo Alban.
E os riscos?
O Greenpeace Brasil, por outro lado, alerta para possíveis impactos negativos no meio ambiente e até na saúde da população brasileira, dado que o acordo estimula, na avaliação da entidade, a importação de itens altamente poluentes.
“Na prática, este Acordo resultará em uma pressão pelo aumento do desmatamento, pois trocaremos commodities, muitas vezes advindas de áreas desmatadas, inclusive na Amazônia, pela importação de agrotóxicos, automóveis, motores a combustão e plásticos”, critica a entidade.
Para além dos impactos socioambientais, o Greenpeace discorda da projeção de que a parceria irá impactar positivamente na geração de empregos no País.
“O Acordo também afetará fortemente a industrialização e geração de empregos qualificados no Brasil e em todo o Mercosul, e poderá nos distanciar da promessa do próprio governo federal de alcançar o desmatamento zero brasileiro”, anotou Camila Jardim, especialista em Política Internacional do Greenpeace Brasil.
Para a organização ambiental, o argumento de que o acordo com a União Europeia vai ser benéfico para o setor agroexportador brasileiro a longo prazo não se sustenta, devido a riscos ambientais.
“Os possíveis ganhos dos grandes agropecuaristas não serão recompensados à altura da devastação e desequilíbrio dos nossos ecossistemas. Como sabemos, o agro será o primeiro e maior setor econômico impactado por eventos climáticos extremos, que já são sentidos no campo com a alteração no regime de chuvas. O prejuízo poderá chegar a bilhões de dólares”, projetou Camila Jardim. “Não podemos deixar a falta de visão de longo prazo seguir drenando a nossa economia e o meio ambiente”, alertou a especialista.