ANDRÉ BARCINSKI
PARATY, RJ (FOLHAPRESS)
“Fazer este disco foi tão prazeroso que nem pode ser considerado trabalho”, diz Neil Tennant, de 69 anos, vocalista do grupo Pet Shop Boys, sobre “Nonetheless”, o 15º álbum de estúdio do duo que ele mantém há 43 anos com o tecladista Chris Lowe, de 64. “Nunca fizemos um disco de maneira tão leve e agradável.”
Com lançamento previsto para 29 de abril, este é o primeiro álbum do Pet Shop Boys produzido pelo talentoso James Ford, conhecido por trabalhos com Gorillaz, Arctic Monkeys, Florence and the Machine e pela produção dos dois discos mais recentes do Depeche Mode, “Spirit” e “Memento Mori”.
“James é um músico extraordinário”, diz Lowe. “Ele é um exímio instrumentista e toca tudo que você pode imaginar: bateria, baixo, guitarra, glockensnpiel, além de um monte de sintetizadores analógicos, instrumentos raros dos anos 1960 e 1970 que ele tem no estúdio. Também é um programador fantástico e faz ótimos arranjos de cordas. Amamos que ele não usa samples. Tudo é tocado ao vivo, o que confere ao som um calor e uma pureza únicos.”
Tennant diz que o método de trabalho do Pet Shop Boys não mudou nas últimas décadas. Ele e Lowe trabalham em amostras das músicas, que são gravadas e enviadas para o produtor. Ford trabalhou sozinhos por duas ou três semanas, ouvindo as fitas e anotando sugestões, e depois se juntou à dupla por cerca de um mês, refazendo o disco todo. “Tive de cantar tudo de novo”, diz Tennant. “Mas faz parte. Se estamos trabalhando com um produtor, ele vira o terceiro Pet Shop Boy”.
Tennant e Lowe se dizem muito felizes com o resultado, mas Tennant revela que, à primeira audição, o disco não soou tão bem. “Simplesmente o odiamos. Achamos tudo um desastre. A mixagem parecia errada, os arranjos orquestrais estavam muito baixos, fiquei deprimido. Mas aí, no dia seguinte, botei meus Air Pods e fui dar uma caminhada no parque Battersea [em Londres]. O dia estava ensolarado, o tempo estava maravilhoso e, de repente, o disco fez sentido para mim”, diz, entre risadas.
“Já ouviu ‘Innervisions’?”, pergunta Tennant, citando o clássico álbum de Stevie Wonder de 1973. “Não estou nos comparando ao Stevie Wonder –ou melhor, estou sim– mas sabe a sensação de ouvir o disco e perceber que Stevie não fez o menor esforço durante a gravação? De que foi só diversão? Tivemos a mesma sensação.”
“Nonetheless” tem dez músicas e mistura, como de hábito em discos do Pet Shop Boys, baladas e canções mais dançantes, sempre com as letras espertas e irônicas de Tennant. Uma das músicas mais peculiares é “The Schlager Hit Parade”, uma ode a um tipo de música chamada “Schlager”, típica da Alemanha e muito popular em países do norte da Europa, que consiste em canções muito simples e de forte apelo popular, com melodias fáceis e letras ingênuas.
“No universo do ‘Schlager’, sempre é Natal ou férias de verão”, brinca Tennant. “Somos obcecados por esse tipo de música e gastamos dias inteiros no Youtube, pesquisando canções de Harold Faltermeyer [compositor alemão de trilhas de filmes como ‘Top Gun’]. Quando fomos gravar nosso penúltimo disco, ‘Hotspot’, no estúdio Hansa, em Berlim, famoso por clássicos como ‘Heroes’, de David Bowie, o que queríamos mesmo era conversar com os técnicos para saber mais sobre os milhares de discos de ‘Schlager’ que foram gravados lá.”
Além do lançamento do novo disco, abril é um mês importante para o Pet Shop Boys porque marca os 40 anos de seu primeiro sucesso mundial com a canção “West End Girls”. Tennant e Lowe acabaram de remixar uma nova gravação da música, feita por outro duo inglês, o Sleaford Mods. “Foi bem fiel à original, mas manteve a pegada mais crua e pesada do Sleaford Mods”, diz Lowe.
No fim do ano, o Pet Shop Boys esteve no Brasil para dois shows, um no Primavera Sound e outro na casa Audio, em São Paulo. “É sempre bom tocar no Brasil”, diz Tennant. “O público é muito emotivo e canta as músicas junto com a gente, é uma ótima sensação. Da primeira vez que fomos a São Paulo, há uns 30 anos, eu odiei, mas depois a cidade se tornou muito mais sofisticada. Hoje tem muita arte, prédios muito interessantes e pessoas gentis. Mudei de ideia totalmente sobre São Paulo.”
Lowe concorda. “É sempre bom ouvir os brasileiros falando português. É uma língua tão bonita e calorosa que você imediatamente se sente dentro de uma música de Sergio Mendes.”