A Polícia Federal indiciou, nesta quarta-feira 11, mais três militares no inquérito que apura a trama golpista para impedir a posse do presidente Lula (PT) em 2022.
Agora, chega a 40 o total de indiciados, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os ex-ministros Walter Braga Netto (PL) e Augusto Heleno. Todos foram enquadrados pela PF nos crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes já enviou o inquérito à Procuradoria-Geral da República. Cabe agora ao órgão denunciar os indiciados, arquivar o caso ou solicitar novas diligências.
Entraram na lista nesta quarta o tenente Aparecido Andrade Portela, o coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu e o tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo.
Quem são os novos indiciados
-Aparecido Andrade Portela é militar da reserva e primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS), ministra da Agricultura no governo Bolsonaro.
Segundo a PF, ele trabalhou como intermediário entre a gestão Bolsonaro e financiadores de manifestações golpistas em Mato Grosso do Sul. No fim de 2022, era um “frequentador assíduo” do Palácio da Alvorada.
A investigação identificou diálogos entre Portela e o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro. Nas conversas, de acordo com a polícia, o novo indiciado usava o termo “churrasco” para se referir ao golpe de Estado.
Os autos dão conta de que Portela repassou a Cid a informação de que financiadores dos atos golpistas, identificados sob a expressão “colaboração da carne”, cobravam a consumação do ato de ruptura institucional por Bolsonaro.
A Polícia Federal ressalta que Portela é amigo próximo de Bolsonaro desde a década de 1970 e informa que ele fez pelo menos 13 visitas ao então presidente apenas em dezembro de 2022.
“Considerando que o tenente Portela possui residência em Campo Grande/MS, onde é suplente de senador, a cobrança do mesmo a Mauro Cid no dia 26/12/2022, apenas 02 dias após estar junto ao então presidente no Palácio do Alvorada, para que ‘ocorra um churrasco’, e que, segundo ele, pessoas que teriam ‘contribuído com a carne’ o estariam cobrando, revela que ambos tinham objetivos em comum”, diz a PF.
Os investigadores afirmam haver evidências de que, além de arrecadar recursos e sugerir linhas de atuação, Portela demonstrava a preocupação de ser identificado por usuários de redes sociais como um dos organizadores dos ataques de 8 de Janeiro de 2023.
–Reginaldo Vieira de Abreu era chefe de gabinete do então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes, também indiciado.
Segundo a PF, Abreu auxiliou Fernandes a disseminar informações falsas sobre as eleições, com o objetivo de impedir a posse de Lula. Em novembro de 2022, sustenta a investigação, levou um hacker à Superintendência da PF em Brasília para tentar formalizar um depoimento, a fim de abrir um procedimento criminal relacionado às urnas eletrônicas.
Abreu também tentou manipular o relatório de fiscalização das Forças Armadas sobre as eleições de 2022. A meta dele era alinhar o conteúdo do documento aos dados falsos divulgados pelo argentino Fernando Cerimedo, evidenciando uma coordenação entre os núcleos da suposta organização criminosa.
A investigação ainda mostrou que o usuário vinculado a Reginaldo Vieira de Abreu imprimiu no Palácio do Planalto, em 16 de dezembro de 2022, um documento criado por Mario Fernandes que tratava do “gabinete de crise” a ser criado após a consumação da ruptura. A estrutura seria chefiada pelo general Augusto Heleno.
Esse “gabinete de crise”, de acordo com a PF, serviria para assessorar Bolsonaro “na administração dos fatos decorrentes da ruptura institucional”.
Pouco antes, em 20 de novembro de 2022, Abreu repassou a Fernandes uma foto do ministro do STF Gilmar Mendes, que embarcava no Aeroporto de Lisboa, em Portugal, rumo a Brasília. Abreu estava naquele voo, segundo a PF.
“Importante contextualizar que a foto foi enviada no mês de novembro de 2022, no período em que os investigados tinham elaborado a primeira versão da minuta de golpe de Estado que previa, dentre outras medidas de exceção, a prisão do ministro Gilmar Mendes, conforme depoimento prestado pelo colaborador Mauro Cesar Cid”, escreveu a PF.
–Rodrigo Bezerra de Azevedo era major de infantaria do Exército e servia no Comando de Operações Especiais. A PF o liga ao plano para prender ou assassinar Alexandre de Moraes em 15 de dezembro de 2022. O codinome “Brasil” foi associado a um número de telefone utilizado por ele.
A investigação também demonstrou, conforme a PF, mais um vínculo objetivo entre Azevedo e outros integrantes da suposta organização criminosa. A análise de dados telefônicos apontou que aparelhos vinculados ao codinome “Brasil” estavam perto da casa de Azevedo em Goiânia após a data em que, segundo o plano golpista, deveria ter ocorrido o crime contra Moraes.
“Ele admitiu ter utilizado celulares e chips anonimizados, prática comum em missões sensíveis do Exército”, diz a polícia.
A PF encontrou ligações de Azevedo para um telefone associado à instituição financeira Nubank em 10 e em 17 de janeiro de 2023. A conta em questão, segundo o banco, é de um homem residente no Rio Grande do Sul, sem ligações aparentes com Goânia.
Novamente, destaca a PF, atesta-se a utilização de “técnicas de anonimização”, para cadastro de linhas telefônicas e abertura de contas bancárias em nome de terceiros, empregadas por Azevedo.
A investigação notou que um dos números cadastrados em nome de terceiros e utilizados para acessar uma conta bancária do Nubank consta do aplicativo de mensagens Signal armazenado no celular de Mario Fernandes.