Com uma ordem executiva, o presidente Joe Biden lançou uma punição inédita a quatro colonos israelenses que vêm incitando a violência contra palestinos na Cisjordânia. Trata-se de um movimento significativo: sob a forma de drásticas sanções financeiras, ele manda um alerta ao grupo de extremistas, equiparando-os a terroristas, e ao premiê Benjamin Netanyahu, que não tem controle sobre os radicais de seu governo.
O decreto permite aos EUA sancionarem líderes ou funcionários de Israel envolvidos na violência contra palestinos. O governo americano cogitou incluir os ministros radicais que integram a coalizão que sustenta Netanyahu: Itamar Ben-Gvir, da Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, das Finanças, estão diretamente ligados aos colonos e corroboram ações e confrontos que fizeram de 2023 o ano mais violento no território ocupado.
Biden deixou os parceiros de Netanyahu de fora nesta primeira rodada de sanções. Preferiu punir os colonos que realizaram ataques e se envolveram em motins, incêndios, intimidações e agressões a agricultores palestinos e ativistas israelenses, além da expulsão violenta de famílias. Eles tiveram os bens e ativos congelados nos EUA e não poderão participar de transações que envolvam o sistema financeiro americano.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) contabiliza 500 ataques de colonos na Cisjordânia desde o massacre do Hamas em 7 de outubro, com dez palestinos mortos e 115 feridos pela ação desses extremistas.
Os dois ministros ultranacionalistas irritaram Biden pela participação atuante nos episódios, semeando uma onda violenta contra os palestinos. Incentivaram a distribuição de armas aos colonos e pregaram a emigração de palestinos da Faixa de Gaza e o repovoamento do enclave com novos assentamentos judaicos. Ben-Gvir manifesta ostensivamente o desprezo pelo presidente americano: “Não somos mais uma estrela na bandeira dos EUA”, costuma repetir.
Há outro motivador crucial nas medidas de Biden contra os colonos israelenses, e, por consequência, contra o governo Netanyahu. Cobrado internamente por não ser firme o suficiente em relação a Israel, o presidente dirige-se também ao público americano. A forma como ele lidou com a guerra de Israel em Gaza provocou cisões no Partido Democrata e repercutiu negativamente na comunidade muçulmana.
Não foi à toa que a Casa Branca anunciou as sanções aos colonos pouco antes da visita do presidente a Michigan, um dos estados indecisos na disputa eleitoral deste ano e que abriga a mais significativa comunidade de árabes-americanos do país, com 200 mil eleitores.
Nas eleições de 2020, Biden obteve grande apoio (80%) em redutos muçulmanos de Michigan, mas vem perdendo popularidade entre a comunidade após o apoio a Israel na guerra contra o Hamas em Gaza, que já dura quatro meses.
O movimento Abandone Biden alimenta as frustrações contra o presidente, por ele ter resistido a defender um cessar-fogo em Gaza. Trata-se de uma campanha nacional em curso em estados decisivos, como Michigan, Minnesota, Flórida, Geórgia, Nevada e Pensilvânia. Uma pesquisa do Instituto Árabe-Americano revelou que o presidente tem apenas 17% das intenções de votos entre esta população e isso pode lhe custar a reeleição.