No domingo (7), foi noticiado o “desaparecimento” do líder dos Los Choneros, uma das facções criminosas mais temidas do país, da prisão onde cumpria uma pena de 34 anos.
A isso se somaram, na manhã desta segunda-feira (8/1), motins em pelo menos seis penitenciárias, com vários relatos de guardas feitos reféns.
Em resposta, Noboa, que foi empossado como presidente em novembro sob a promessa de restaurar a segurança no país, disse por meio das redes sociais: “Não vamos negociar com terroristas”.
Noboa disse que medida extrema é necessária para resolver crise prisional do Equador — Foto: REUTERS
“Esses grupos narcoterroristas pretendem nos intimidar e acreditam que cederemos às suas exigências. Dei ordens claras e precisas aos comandantes militares e policiais para intervirem no controle das prisões”, disse ele.
Com a decisão de Noboa, a polícia terá o apoio das forças militares para manutenção da ordem e da segurança, inclusive dentro das prisões.
Além disso, foi imposto um toque de recolher entre 23h e 5h para todas as cidades.
Fuga de ‘Fito’
“Sumiço” de Fito levou à mobilização de 3 mil membros da polícia e das Forças Armadas — Foto: REUTERS
Antes da declaração do estado de emergência, o presidente havia anunciado a mobilização de pelo menos 3 mil agentes da polícia e das Forças Armadas para recapturar Adolfo Macías, conhecido como “Fito” — o líder dos Los Choneros.
Macías foi condenado a 34 anos de prisão em 2011.
Desde que foi preso, ele se tornou um dos protagonistas de episódios de violência nas penitenciárias do Equador.
Segundo o jornal equatoriano Expreso, quando Macías soube que as facções de Los Lobos e Los Tiguerones haviam planejado um ataque contra ele, organizou o que ficou conhecido como o incidente mais violento já registrado no sistema prisional do Equador: a execução de 79 presos em diferentes prisões do país, em 2021.
O ministro de comunicação do Equador, Roberto Izurieta, disse que o governo planejava transferir Macías para um presídio de segurança máxima e, por causa disso, o traficante decidiu fugir.
Fito é suspeito de ter tramado o assassinato no ano passado do candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio, a quem havia enviado ameaças de morte.
A polícia disse que registrou seu desaparecimento da prisão na manhã de domingo (7/1) e não conseguiu verificar seu paradeiro.
Fito frequentemente desafia as autoridades — recentemente, lançou um videoclipe em que glorifica suas façanhas criminosas.
A gravação foi feita parcialmente dentro da prisão.
O vídeo mostra a dupla Mariachi Bravo cantando ao lado da filha de Fito, conhecida como Rainha Michelle, e elogiando-o como “homem de honra”.
“Tiro o chapéu para você, Fito, meu pai”, canta Michelle, afirmando que “em suas veias corre bom sangue”.
O vídeo também mostra Fito acariciando um galo de rinha e conversando com outros presidiários.
O fato de as imagens terem sido gravadas dentro da prisão sugere que o traficante tem acesso a dispositivos eletrônicos, uma violação da lei equatoriana.
Ainda não está claro se Fito conseguiu sair do complexo penitenciário ou se está escondido em algum lugar em seu interior.
Um comandante da polícia disse que “não confirma nem nega” se houve mesmo uma fuga.
Ele disse que centenas de agentes estão vasculhando a prisão.
Essa não é a primeira fuga de Fito da prisão.
Em 2013, ele e outros 17 presos escaparam de La Roca e fugiram em barcos no rio Daule, ao lado do complexo penitenciário.
Quatro meses depois, Fito foi capturado junto de seu irmão, também membro dos Los Choneros, na casa da mãe deles, na cidade de Manta.
Crise penitenciária
Equador deu início a operações para retomar controle das prisões após motins — Foto: EPA via BBC
Governos anteriores do Equador também declararam estado de emergência visando resolver a crise do sistema penitenciário, mas sem sucesso.
Em agosto de 2023, o então presidente Guillermo Lasso ordenou a transferência de Macías para o Centro Penitenciário La Roca, medida que foi revertida algumas semanas depois por um juiz.
O plano de segurança de Noboa inclui a criação de uma nova unidade de inteligência, armas táticas para aplicação da lei e segurança e um plano para manter temporariamente prisioneiros perigosos em navios-prisão.
Desde 2021, mais de 400 mortes foram registradas nas prisões do Equador devido a confrontos entre facções rivais.