O prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), interditou o Parque Mutirama, nesta quarta-feira (26), após acidente com o brinquedo Twister deixar 13 feridos, entre crianças, adolescentes e adultos. O político pede que seja realizada uma vistoria completa no local e, só depois, deve reabrir o espaço.
“Ao entrar aqui, determinamos o fechamento do parque até um levantamento geral, não apenas do que provocou o acidente, mas de todos os brinquedos que estão funcionando. Feito esse levantamento, esperamos colocar em funcionamento novamente o Parque Mutirama”, explicou.
O acidente ocorreu por volta das 13h30 desta quarta-feira. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), inicialmente, 11 pessoas foram atendidas no local. No entanto, ao chegarem às unidades de saúde, outras duas mulheres que acompanhavam vítimas perceberam escoriações e também foram atendidas.
Os feridos foram encaminhados para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) e Centro de Referência em Ortopedia e Fisioterapia (Crof).
No Hugo, até o início desta noite, uma menina de 9 anos tinha estado de saúde grave e estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Já um homem de 49 anos tinha estado regular e passava por reavaliação. Ainda na mesma unidade, uma mulher de 56 anos tinha estado grave e passava por cirurgia na perna.
Ainda não há detalhes dos estados de saúde dos demais feridos.
Bombeiros resgatam feridos em acidente com brinquedo do Parque Mutirama, em Goiânia — Foto: Divulgação/ Corpo de Bombeiros
Acidente
No momento do acidente, os frequentadores que estavam no Parque Mutirama se assustaram. Segundo o capitão do Corpo de Bombeiros, Patrick Nowak, houve pânico logo após o acidente. “Na hora, a comoção foi bem grande, as pessoas estavam muito preocupadas, havia tumulto e gritaria”, disse.
Ele crê que o acidente foi causado por uma falha mecânica. “Trata-se de um brinquedo que gira em torno de seu próprio eixo. Ele deslocou do seu eixo para lateral”, explicou Nowak.
A cabeleireira Valéria da Silva Guimarães conta que se assustou ao ver o problema com o brinquedo. “Estava na fila da montanha-russa quando a gente escutou um barulho, como se estivesse estourando um pneu. No que a gente olhou, estava caindo tudo e as pessoas voando”, relatou.
A esposa de um dos feridos, que preferiu não ser identificada, disse que o marido relatou o susto do momento do acidente. “Disseram que eles estavam no brinquedo e o brinquedo desmontou. Ele desmontou inteiro e caiu com todo mundo em cima”, afirmou.
Outra vítima, a adolescente Mariana Castro, de 14 anos, contou que estava no brinquedo na hora da queda e, pouco antes, escutou barulhos que podem ter sido da estrutura. “Tipo ‘trac, trac, trac’ diversas vezes. Quando pensa que não, tudo desabou”, relatou.
Já a doméstica Neuraci Vargas relata que viu todo o acidente. “Eles caíram na minha frente. Meu filho de 12 anos ficou pendurado no brinquedo, eu consegui tirar ele. Minha sogra estava atrás e ela teve fratura exposta nas duas pernas. Minha sobrinha estava sentada junto com ela e quebrou a bacia”, relatou.
Mapa – Acidente no Parque Mutirama — Foto: Arte/G1
Mutirama
Localizado no Centro de Goiânia, o Parque Mutirama foi inaugurado em 1969. Ao longo dos anos, ele foi ampliado e, atualmente, possui 32 brinquedos. Também integram a área do Mutirama o Parque dos Dinossauros e o Planetário da Universidade Federal de Goiás.
Responsável pelo parque, a Agência Municipal de Turismo, Eventos e Lazer (Agetul) lamentou o acidente e informou, em nota, que “as vítimas foram atendidas rapidamente pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e pelo Corpo de Bombeiros e encaminhadas imediatamente para unidades de saúde da capital”.
O órgão destacou que a manutenção dos brinquedos do Parque Mutirama está em dia e que “os motivos do acidente serão investigados pelo Corpo de Bombeiros e outros órgãos competentes”.
Crianças de até 2 anos não pagam para entrar no parque. A entrada, que dá acesso a todos os brinquedos, custa R$ 16 a inteira e R$ 8, a meia.
Possíveis irregularidades
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) informou por meio de nota que “seus agentes fiscais realizam, anualmente, vistorias em parques de diversão em todo o Estado de Goiás”. O órgão destaca que, na última vistoria do Mutirama, realizada no dia 26 de janeiro deste ano, “foi constatada a inexistência de profissional da engenharia responsável pela manutenção dos equipamentos eletromecânicos”.
Diante da constatação, o Crea-GO esclarece que notificou a Agetul para que apresentasse o responsável, o que não foi feito.
O capitão dos bombeiros, Patrick Nowak, esclareceu que a documentação relativa às inspeções dos bombeiros estava em dia.
“Quando a gente faz a nossa inspeção nos locais de aglomeração de público, a gente pega a anotação de responsabilidade técnica de um engenheiro, que avalia e fala que o brinquedo está ok para ser usado durante certo tempo. Nesse caso, o Mutirama possui todos esses documentos”, afirmou.
No entanto, após o acidente, o documento passou a ser inválido e será necessária nova inspeção. “Como houve o acidente com o brinquedo, esse termo de responsabilidade técnica que estava com validade é desconsiderado. Nós interditamos o Parque até a apresentação de novos documentos falando da funcionalidade legal do brinquedo”, esclareceu.
Um documento mostra que o brinquedo passou por uma inspeção ainda nesta quarta-feira, que apontava que todos os quesitos estavam dentro da normalidade. Porém, no mesmo não consta a assinatura de técnico mecânico.
Conforme apurou a TV Anhanguera, há uma inspeção diária nos aparelhos do Parque Mutirama, no entanto, problemas que podem ter causado o acidente não são visíveis a olho nu. Para constatá-los, seria necessário um raio X da máquina. Esse teste não seria feito no brinquedo há cerca de cinco anos.
Não há informações sobre a data de fabricação do brinquedo. Conforme administração do Mutirama relatou à TV Anhanguera, o equipamento foi reformado pela última vez em 2012.
A promotora Leila Maria de Oliveira afirmou que a empresa responsável pela reforma no equipamento não comprovou habilitação técnica para prestar o serviço. Portanto, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) entrou com uma ação, na época, mas que ainda não foi julgada.
“Nessa ação, além de ser questionada a licitação, um superfaturamento, questionava a questão da empresa não ter certificado de habilidade técnica para colocar esses brinquedos em funcionamento”, pontuou.
A titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) ,Paula Meotti, começa a investigar o caso e esclareceu que a Polícia Civil deve apurar as causas do ocorrido. “Vamos verificar o que gerou, por que ocorreu esse acidente. Aparentemente, o brinquedo saiu do eixo, mas o que aconteceu, o que motivou isso. Falta de manutenção, ou se não, se foi realmente um acidente. A perícia vai nos ajudar a entender o que realmente aconteceu”, afirmou.
Já o diretor do Instituto de Criminalística, Rodrigo Medeiros, afirma que ainda não é possível afirmar o que causou o acidente com o brinquedo.
“Comparecemos aqui a pedido da Polícia Civil. Convoquei um perito com formação em engenharia para avaliar e auxiliar os trabalhos da primeira perita. A princípio, houve um rompimento do eixo, e eles vão avaliar como se deu. Os técnicos vão avaliar como foi esse rompimento”, esclareceu.
* Thalles Pereira é integrante do programa de estágio entre a TV Anhanguera e Unialfa (Centro Universitário Alves Faria), sob orientação de Elisângela Nascimento.