A prisão de San Miguel reflete mais uma artimanha do regime num ano eleitoral em que María Corina Machado, a principal opositora de Maduro e franca favorita nas pesquisas de opiniões, está proibida de concorrer.
Especialista em assuntos militares e diretora da ONG Control Ciudadano, a advogada e ativista de direitos humanos, de 57 anos, pretendia viajar para Miami com a filha Miranda, quando foi presa no aeroporto internacional de Maiquetía por agentes da Direção Geral de Contra-espionagem Militar.
Desde então, San Miguel, que defende a supervisão civil de militares, não foi mais vista, disseminando alertas de preocupação e a solidariedade de mais de cem entidades de direitos humanos, além da ONU, do governo americano e da União Europeia, que exigem a sua libertação.
Sabe-se dela apenas por informes lacônicos do procurador-geral de Maduro, Tarek William Saab. Seus advogados passaram os últimos dias percorrendo as prisões e não tiveram acesso a San Miguel.
Cinco familiares da ativista — a filha, dois irmãos, seu pai e seu ex-marido — também foram presos, mas, já libertados, estão proibidos de deixar o país e devem se apresentar periodicamente à imprensa.
San Miguel foi acusada de conspirar para um golpe militar no país, que incluía assassinar o presidente-ditador.
Denominado Operação Pulseira Branca, este seria um dos cinco planos conspiratórios supostamente desmantelados pelo regime, que já resultaram na prisão de pelo menos 32 pessoas desde janeiro, segundo o procurador Saab:
“O caso Pulseira Branca consistiu no planejamento de um ataque contra a 21ª Brigada de Infantaria do Exército Bolivariano do estado de Táchira para tomar o parque de armas de uma unidade militar e atacar o governador. Depois, escalar por outros estados, até chegar a Caracas para o assassinato do presidente Nicolás Maduro.”
A descrição um tanto quanto fantasiosa do procurador-geral deste plano conspiratório se integra no contexto eleitoral e no agravamento da perseguição política de opositores, conforme resumiu o coordenador-geral da ONG Provea, Oscar Murillo, à rede de TV CNN Internacional.
“A fúria bolivariana se constituiu desde janeiro, no avanço da repressão política, afetando líderes sindicais, sociais, jornalistas e,agora, essa detenção arbitrária e o desaparecimento forçado de Rocío San Miguel, que é, sem dúvida, um dos casos mais graves de violação de direitos humanos que conhecemos”, afirmou Murillo.
Publicado no dia 5, o último informe ONG Foro Penal contabiliza 263 presos políticos na Venezuela. Mais de nove mil pessoas se encontram em regime de liberdade restritiva, de acordo com a entidade.
As eleições presidenciais estão previstas para este ano, mas não foram marcadas. Como uma reprise de filme antigo, diante da desvantagem de Maduro nas pesquisas, os opositores foram afastados, tornados inelegíveis e envolvidos em planos de conspiração contra o regime.
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