Este ponto da proposta de Yoav Gallant colide frontalmente com os anseios dos ministros ultrarradicais que integram o Gabinete de Benjamin Netanyahu e defendem a expulsão dos palestinos e o estabelecimento e o regresso de assentamentos judaicos no território.
Embora sem especificar quem governará o território no dia seguinte ao fim da guerra com o Hamas, o ministro da Defesa foi categórico: Israel não será responsável pela vida civil na Faixa de Gaza.
Não causou surpresa, portanto, que a reunião de Gabinete para debater o tema, na noite de quinta-feira, terminasse com um bate-boca furioso entre os ministros da coligação de extrema direita que sustentam o premiê e os chefes militares.
O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o das Finanças, Bezalel Smotrich, vêm expressando abertamente os termos “emigração de palestinos” e “reassentamento voluntário de colonos” em seus planos para o futuro da Faixa de Gaza.
“Israel não pode continuar a ser vizinho de um foco de ódio e terrorismo, onde dois milhões de pessoas acordam todas as manhãs com aspirações à sua destruição e com desejo de massacrar, estuprar e assassinar judeus onde quer que estejam”, justificou Smotrich.
A retórica alardeada pelos parceiros fundamentalistas de Netanyahu é definida como inflamatória e irresponsável pelo governo americano e rechaçada também por altos representantes da ONU e da União Europeia. Israel se retirou unilateralmente do território em agosto de 2005; este status quo deverá ser preservado, segundo a comunidade internacional.
A guerra iniciada por Israel em Gaza após o massacre do Hamas em 7 de outubro já deixou mais de 22 mil mortos, de acordo com estimativas do grupo terrorista. Calcula-se que 90% dos habitantes deixaram suas casas. O ministro Gallant não informou se a população deslocada para o Sul do território será autorizada a regressar. O governo tem condicionado este retorno a um acordo para a libertação de 130 reféns ainda em poder do Hamas.
O plano delineado pelo ministro da Defesa para o pós-guerra prevê um mecanismo multipolar para Gaza com quatro elementos: Israel, Egito, uma força multinacional e um aparelho administrativo palestino integrado, segundo Gallant, por comitês locais que não sejam hostis a Israel.
O ministro não esclareceu se a Autoridade Nacional Palestina seria envolvida, mas deixou claro que o Hamas não estará mais no controle do território.
A proposta requer a aprovação do governo israelense e justamente aí reside o seu maior obstáculo. Como assinalou o colunista Yossi Verter, do jornal “Haaretz”, é como se Netanyahu não tivesse pressa em tomar uma decisão e estimulasse brigas internas na coligação. “O mais natural para ele é fazer o que sempre faz e procrastinar.”
A lógica parece simples e um tanto quanto primária. Quanto mais prorrogar a guerra e quanto mais adiar uma decisão sobre o futuro de Gaza, mais chances o premiê tem de se perpetuar no cargo.