O epicentro desse movimento é a Universidade Columbia, em NY, onde há um acampamento de ativistas com bandeiras palestinas e mensagens de solidariedade a Gaza.
Parte da comunidade universitária se incomodou com os protestos: alunos e professores judeus afirmam que as manifestações têm se tornado antissemitas, e que eles têm medo de pisar nos campi.
Shai Davidai, um professor da faculdade de administração da Universidade Columbia, em Nova York, afirmou que foi impedido de entrar em uma parte do campus. Davidai é um judeu israelense americano (veja mais abaixo o que aconteceu nas universidades).
Manifestantes pró-Gaza na Universidade Columbia, em NY, epicentro de um movimento que está se espalhando para outras instituições — Foto: Ted Shaffrey/AP
As reitorias de diversas universidades americanas chamaram a polícia, e houve cerca de 500 prisões. Segundo o jornal inglês The Guardian, houve protestos em mais de 40 universidades até a sexta-feira (26). A agência de notícias Associated Press, dos EUA, relata prisões em 11.
Em um ano de eleições presidenciais, o conflito entre manifestantes, reitorias e opositores já virou tema para o embate entre os dois candidatos: Donald Trump, do Partido Republicano, e o atual presidente Joe Biden, do Partido Democrata.
Por que é importante para as eleições?
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As manifestações são importantes porque ocorrem em universidades de ponta e com muita visibilidade, afirma Paulo Velasco, professor de política internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e da Casa do Saber.
A questão para Joe Biden é que ele depende do voto de pessoas mais jovens, que são mais inclinadas a votar em candidatos mais à esquerda. No entanto, a política externa do atual governo desagrada a esse eleitorado, afirma Velasco.
Isso porque Biden apoia a ofensiva de Israel em Gaza, iniciada após o grupo terrorista Hamas invadir o território, em outubro de 2023, matar e sequestrar cidadãos israelenses. Mais de 34 mil palestinos morreram no conflito desde então, de acordo com números do Ministério da Saúde em Gaza, controlado pelo Hamas.
Velasco faz um paralelo entre os eleitores jovens americanos e a comunidade árabe. Ambas votaram em peso em Biden na eleição de 2020. Mas, neste ano, ainda que não apoiem Trump, podem não aparecer nas urnas para reeleger o atual presidente — nos EUA, o voto não é obrigatório. Em uma eleição concorrida, isso pode fazer diferença.
Biden em cima do muro
Além disso, pode haver protestos em momentos importantes na corrida eleitoral. A convenção do Partido Democrata, quando a candidatura de Biden à presidência será oficializada, será em agosto em Chicago.
Por isso, é muito difícil para Biden dar uma resposta a essa onda de protestos.
“A forma de reação do governo a essas manifestações será um fator determinante para medir o alcance do desgaste”, afirma Paulo Abrão, diretor-executivo do Washington Brazil Office, um think tank sediado nos EUA.
Em declaração na segunda (22), quando os protestos ainda não haviam escalado, Biden ficou em cima do muro: “Condeno os protestos antissemitas. Também condenado aqueles que não entendem o que está acontecendo com os palestinos”.
Trump ‘tira uma casquinha’
Trump, que está sendo julgado num tribunal de Nova York a acusado de fraude por ocultar pagamentos a uma ex-atriz pornô, disse que Biden não sabe o que fazer.
“Ele quer adotar uma postura conciliadora, e muitas vezes isso não funciona, certamente não está funcionando”, afirmou o candidato republicano.
Trump voltou ao tema em sua rede social, a Truth Social. O ex-presidente afirmou que, nas eleições de 2020, Joe Biden afirmou que decidiu concorrer depois de uma manifestação de supremacistas brancos e extremistas de direita na cidade de Charlottesville, no estado da Virgína, em 2017. Grupos abertamente racistas e antissemitas que apoiavam Trump foram às ruas naquela ocasião.
O ex-presidente disse que “se isso é verdade, então ele [Biden] está fazendo um péssimo trabalho, porque [as manifestações] de Charlottesville são minúsculas se comparadas aos distúrbios anti-Israel que estão acontecendo em todo o nosso país agora mesmo. E é culpa de Joe Biden, que odeia Israel e odeia o povo judeu. O problema é que ele odeia os palestinos ainda mais e não sabe o que fazer”.
Manifestação na Universidade George Washington, em 26 de abril de 2024 — Foto: Jose Luis Magana/AP
As manifestações vão crescer?
A primeira manifestação aconteceu na Universidade Columbia, em Nova York, em 17 de abril. Os alunos organizaram o ato para coincidir com o depoimento da reitora no Congresso dos EUA. A polícia foi chamada e prendeu mais de 100 pessoas. Essas prisões acabaram fortalecendo mais manifestações, que se espalharam pelo país.
Se os protestos se concentrassem em Columbia, seria uma coisa, disse Angus Johnston, historiador focado no ativismo universitário, à Associated Press. “Se isso levar o movimento estudantil nacional para um novo lugar, a situação será muito diferente.”
A universidade já se pronunciou, condenando qualquer ato de discriminação com base em religião ou nacionalidade. A direção também declarou que está em negociações com líderes do movimento pró-Palestina para que eles desocupem o campus.
Paulo Velasco afirma que com frequência as manifestações nos EUA começam pequenas e depois acabam ganhando adesões, mas ele acha que dificilmente isso vai acontecer desta vez. “Essa pauta não tem tanta penetração como, por exemplo, a questão racial nos EUA, que ainda é uma muito presente. É um assunto mais circunscrito à esfera da política externa”.
Além disso, ele afirma, o fim do ano letivo está próximo (nos EUA, o ano letivo começa no segundo semestre e termina no fim do primeiro semestre). “Isso pode desmobilizar o ambiente universitário, porque nas férias os estudantes americanos geralmente saem dos dormitórios, voltam para suas cidades, e as universidades ficam muito vazias”, diz Velasco.
Abrão, do Washington Brazil Office, afirma que nos EUA, historicamente, as manifestações de jovens comovem muito, “mas isso também depende da solidariedade e do respaldo social da opinião pública”.
Protestos onde houve prisões
Manifestantes pró-palestinos ergueram um acampamento nessa universidade de Nova York desde 17 de abril.
Alunos e professores judeus afirmaram que se sentiram perseguidos (como o professor que disse que foi barrado), e a universidade passou a dar aulas híbridas (o aluno pode escolher se quer ver de forma remota ou presencial).
No dia 18 de abril, a polícia foi chamada para acabar com o acampamento (o que não aconteceu) e prendeu mais de 100 pessoas –isso motivou alunos de outras universidades a protestar.
A universidade quer que os manifestantes acabem com o acampamento. Segundo a instituição, houve um acordo pelo qual ficou acertado que as pessoas que não são alunas e estão acampadas vão deixar o espaço.
Fora isso, os manifestantes se comprometeram a proibir mensagens discriminatórias (contra israelenses, por exemplo) ou ameaças.
Universidade do Sul da Califórnia
Devido aos protestos, não vai haver festa de formatura. A universidade tinha decidido cancelar o discurso do orador escolhido, que é pró-palestinos (a instituição afirmou que estava preocupada com os riscos).
A polícia da cidade de Los Angeles prendeu mais de 90 pessoas na quarta-feira (24) durante um protesto (os manifestantes teriam invadido áreas privadas).
A universidade fechou o campus e disse que a polícia iria prender quem não saísse.
Pelo menos 48 pessoas foram presas, sendo que 44 eram alunas, por invasão de propriedade. Elas acamparam durante dias no centro do campus.
Universidade do Texas, em Austin
Policiais prenderam dezenas de pessoas e tiraram centenas de manifestantes de um campo da universidade.
A universidade permitiu algumas manifestações.
Universidade George Washington
Os alunos também organizaram um acampamento nessa universidade. Os policiais ficaram ao redor do local de manifestação, mas não houve prisões ou incidentes sérios.
As manifestações pacíficas foram autorizadas, mas pessoas que não têm nenhuma ligação com a instituição não podem protestar no campus.
A universidade suspendeu um comitê de solidariedade aos palestinos.
Os portões de uma parte do campus foram fechados, e o acesso foi limitado a pessoas que têm crachá da instituição.
A universidade também colocou cartazes para proibir barracas sem permissão. Mesmo assim, os manifestantes organizaram um acampamento com 14 barracas.
Universidade Politécnica do Estado da Califórnia em Humboldt
Os manifestantes bloquearam entradas de um prédio na segunda-feira. As aulas passaram a ser remotas. Na terça-feira, eles informaram que estudantes haviam ocupado um segundo prédio e que três estudantes haviam sido detidos.
A universidade pode manter o campus fechado além do domingo.
Na terça-feira, cerca de 80 alunos e pessoas que não estudam na instituição ocuparam uma área do campus. Eles foram avisados que o protesto violava algumas regras da cidade (por exemplo, o barulho era excessivo e eles impediam o acesso a hidrantes). A polícia foi chamada e 108 pessoas foram presas.
Universidade de Nova York
Centenas de pessoas acamparam na universidade. Na quarta-feira, a polícia levou 133 pessoas, mas todas foram liberadas.
Os alunos montaram um acampamento, mas a polícia universitária mandou eles desfazerem. Pelo menos 17 pessoas foram presas. Uma porta-voz da universidade disse que não eram alunos, mas, sim, pessoas que invadiram o campus.
Universidade Northwestern
Os alunos estavam organizando um acampamento e daí a universidade mudou as regras para proibir barracas no campus.
Não houve prisões na universidade.
Instituto de Tecnologia da Moda
Alunos montaram barracas e fizeram protestos em que sentaram no chão. Uma parte do protesto aconteceu do lado de fora do prédio da escola.