The Dark Side Of the Samba? Sete indicações de como o Rock, quando quer, consegue ser fantástico quando o assunto é Carnaval
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Não se engane: O Carnaval acabou no calendário oficial das prefeituras. Mas a festa… é um espírito vivo, como arte, que ecoa nos rostos, risos, roupas e ritmos. Para quem não gosta do Carnaval, essa é uma péssima notícia. Quanto mais você torce (contra), menos ele seca. Eu poderia dizer que Rock e Carnaval não se misturam pela densidade. Seria como misturar álcool e água. Também poderia dizer que isso acontece desde 1956, com as proibições de se tocar rock nos bailes de Carnaval em São Paulo e no Rio de Janeiro após o filme Rock Around the Clock, conforme brilhante levantamento do historiador Alexandre Camargo de Sant’Ana. Mas proponho aqui o improvável. Se Carnaval é um espírito, vou te mostrar sete vezes em que o Rock embebeda-se deste vinho e consegue ser mais bamba do que muito samba. E não estou falando de tocar clássicos do rock em ritmo carnavalesco. Aqui te mostro como samba chorinho fica melhor no blues, um trabalho especial que melhor retrata a jornada do folião, o escracho caricato que é a cara do Carnaval, e rocks pesados com percussões tribais e carnavalescas. Te apresento agora The Dark Side of The Samba.
Tenho Mais Discos Que Amigos
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Retalhos de Cetim (versão Velhas Virgens) – Cartola escreveu As Rosas não Falam em 1974, lançada pela primeira vez por Beth Carvalho dois anos depois. Mas foi Celso Blues Boy, em 98, que transformou este samba chorado em um blues sombrio, amargo e denso como um café sem açúcar. Não tem jeito: Tem samba que é melhor no rock. Quer outro exemplo? Eu indico Retalhos de Cetim, canção composta por Benito di Paula em 1973. Mas ouça a versão blues da banda Velhas Virgens, de 2017. “Mas chegou o Carnaval e ela não desfilou… eu chorei! Na avenida eu chorei…” A banda sempre flertou com Carnaval, como com a coletânea CarnaVelhas (2004, 2010, 2012 e 2017). Eles têm até um bloco de rua. Mas em Retalhos de Cetim atingem um nível Celso Blues Boy de perfeição. THE DARK SIDE OF THE SAMBA! Blues!
Reprodução/Instagram/@velhasvirgens
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Quando o Carnaval Chegar (Versão Engenheiros do Hawaii) – Como diria Pedra Letícia, há coisas que somente Chico Buarque pode fazer. Eu sei. É Terra de Gigantes. Na época do lançamento do álbum ao vivo 10.000 Destinos, em 2000, éramos “só uns garotos” em busca de um “alívio imediato”. “Ninguém é = a Ninguém” e “Somos só quem podemos ser”. Por isso, “Pra ser sincero, “ouça o que digo”: pirateamos rádios e interpretamos Chico. Porque nada é tão longe que não possa tocar. Seja no piano ou no bolero: infinitos, “Highway”.
Reprodução/Deezer/@EngenheirosdoHawaii
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Todo Carnaval Tem seu Fim – Los Hermanos – Eu não gosto de Los Hermanos. O que não faz o Bloco do Eu Sozinho (2001) ser ruim. Talvez seja o álbum que mais condicione a essência da banda. Como o paradoxo do palhaço triste: a melancolia de uma bossa-novista, ainda na era do rock mainstream, tocando em um Carnaval de salão. E então? Todo Carnaval tem sua finalidade? Não há como grifar somente uma música. Eu não gosto, e ouvi esse álbum todo. Viu como sou ruim? Agora estou recomendo que você faça o mesmo
Reprodução/Deezer/@loshermanos
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Carnaval – Barão Vermelho Carnaval é coletivo: blocos de rua, movimentos sociais, turistas e secretarias. E foliões. Muitos foliões. E é assim, na “solidão, sozinho na multidão”, que o Barão Vermelho retrata a saga do folião, no singular, no álbum Carnaval (1988). Sua jornada como indivíduo em busca de diversão. Periférico, marginalizado em transportes públicos de péssima acessibilidade, que piora no Carnaval. É sobre o que “se faz a noite, no fim da festa”, em meio a sujeira e cheiro de urina na falta de banheiros públicos. É sobre o que faz o “mundo escuro e sujo”: “por mais liberdade que anseie”, “inquisições fatais”, “preconceitos sexuais” e “repressões fascistas”. “Mundo escuro e sujo”. Mesmo, “Pense e Dance” “como um furacão” “Selvagem”. E se chover, “danço na temporal”, “sou raio no meio da tempestade”. Um álbum especial para Barão Vermelho no pós Cazuza.
Reprodução/Deezer/@baraovermelho
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Metal Samba (SIC) – Massacration Muitos metaleiros não gostam do Massacration, banda dos humoristas do Hermes e Renato. Há um antagonismo entre a essência do que é o Metal, e escracho que caracteriza o trabalho humorístico deles. Eis o paradoxo: a banda é amada por um público da antiga MTV, que lota shows e idolatra Detonator, o vocalista Bruno Sutter, como um herói. Como Ozzy Osbourne, Bruce Dickinson e James Hetfield. O escracho de Hermes e Renato é cara do Carnaval. Seus personagens, fantasias. Seu humor, a alegria. Em cada obra, a letra de um bloco. Então sim: ouça os trabalhos musicais de Hermes e Renato, seja a Escola de Samba, a banda de axé ou a de Metal, Massacration. Metal is the Law, The Law is Metal! Ouça também a tal Metal Samba sei lá o que. Hahaha, é um escracho!
Nação da Música – Música
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Roots – Sepultura O que acontece quando a banda de metal mais pesada do mundo decide passar um tempo em uma tribo Indígena? Inimaginável né… afinal: o que os índios xavantes e os metaleiros têm em comum? Bom… ambos são “cabeludos, tatuados e o pessoal tem preconceito com eles”. Assim nasce Roots (1996), álbum tribal do Sepultura, o último trabalho com Max Cavalleira ainda na banda. O impacto deste álbum é incalculável e ecoa em bandas até hoje. Minas Gerais não inventou o Metal, mas o forjou de um jeito tão bruto que, agora, fez o Metal que se inspirar em Minas. E Roots é sobre isso. Um trabalho de percussão tribal, raiz. Porque no meu Carnaval, a percussão é assim. Salve o Metal
Reprodução/Deezer/@Sepultura
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Progress of Decadence – Overdose – Você já pensou? Em Heavy Metal do Senhor, de Zeca Baleiro, qual seria o som pesado escolhido para rivalizar com a banda cover underground (ps: existe cover underground?). Para mim, o som mais pesado que conheço é Progress of Decadence (1993), do Overdose. “Rio, Samba e Porrada no Morro!”. A percussão no álbum é toda inspirada nas Escolas de Samba dos morros cariocas, com um vocal épico, sem perder um pingo do peso do Thrash Metal. Como com o Sepultura, esse álbum ganhou o mundo e inspirou, e ainda inspira, bandas do Metal.
Reprodução/Deezer/@overdose
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