Que existe uma “máfia da dor” por trás da indústria farmacêutica não é segredo. Analgésicos aparentemente inocentes que fazem os clientes viciarem em seus efeitos é caso recorrente em ficções inspiradas em histórias reais. “Crise”, de Nicholas Jarecki, explora uma crise relacionada a opioides que envolve três histórias independentes que se cruzam. Jarecki se inspirou em um amigo que faleceu por abuso de opiáceos, depois de ter se viciado em analgésicos.
Inspirado em thrillers policiais dos anos 1970, como “Um Dia de Cão” e “Serpico”, e também em tramas policiais complexas com enredos multiplot, como “Crash – No Limite” e “Traffic: Ninguém Sai Limpo”, Jarecki faz um estudo de caráter em que observa pessoas que fazem coisas erradas pelos motivos certos.
Um dos três protagonistas é Jake (Armie Hammer), um traficante de drogas em Montreal que aos poucos se revela como um agente infiltrado da Delegacia de Narcóticos e que está em uma operação que investiga tráfico nos Estados Unidos e Canadá. Há também Claire Reimann (Evangeline Lilly), uma mulher viciada em remédios que tem o filho assassinado pelo tráfico. Sem nenhuma ação contundente da polícia para averiguar as verdadeiras causas e suspeitos da morte do adolescente, ela decide empreender uma aventura de detetive para desvendar a verdade. Há também o doutor Brower (Gary Oldman), um professor universitário que é chantageado depois de desvendar segredos sujos da Big Pharma.
Enquanto tenta embalar uma porção de discussões profundas em um produto de duas horas de duração, não alcança a profundidade que deseja. Os personagens não possuem tempo o suficiente para serem explorados mais profundamente e isso o impede de alcançar um potencial pleno, embora as intenções sejam boas.
Conforme as histórias avançam, os três personagens principais de cada linha de narrativa se encontram. Além de tratar da máfia da dor, o filme também aborda a corrupção no sistema de justiça, o impacto do vício sobre as famílias e o poder das grandes empresas. Enquanto os personagens enfrentam as consequências de suas escolhas, também enfrentam dilemas morais, o que vai ampliando a tensão do filme.
Com uma paleta escura e saturada, a fotografia também explora tons frios para destacar a sensação de urgência e a violência urbana. O uso da luz também é essencial para criar sombras em momentos de tensão do filme, aumentando as emoções e as sensações de ansiedade.
Filme: Crise
Direção: Nicholas Jarecki
Ano: 2021
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10